Senhores Atenienses, Ouçam!

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

BENTO XVI REDESCOBRE: O justo viverá por fé. SERÁ?

Vez ou outra acordamos com algumas notícias que acabam nos surpreendendo, pois toda contingência própria do mundo dos humanos, de alguma maneira nos acomete com sentimentos de alegria, tristeza, indiferenças ou algumas indagações, do tipo – E se esse acontecimento fosse pelos motivos que estou imaginando absorto nos meus pensamentos?   
Em uma decisão inesperada pela comunidade católica, o Papa Bento XVI anunciou nesta segunda-feira que vai deixar a liderança da Igreja, abandonando o cargo no dia 28 de fevereiro. Em comunicado, o religioso disse que sua força não é mais adequada para continuar no posto devido à idade avançada e que tomou a decisão pelo bem da Igreja. O Vaticano ainda não divulgou qual será o processo para a substituição do líder, mas disse que Joseph Ratzinger deverá se recolher a um mosteiro após a escolha de seu sucessor. Ratzinger é o quarto Papa a renunciar ao cargo. A última vez que isso aconteceu foi há quase 600 anos. O próximo pontífice deve ser eleito no fim de março, segundo informações de agências internacionais.
                                         
Lembram o que escrevi “E se esse acontecimento fosse pelos motivos que estou imaginando absorto nos meus pensamentos?” Ao ouvir a notícia da renúncia do Papa, imediatamente lembrei de Lutero, monge Agostiniano, muito estudioso, que certo dia foi efizcamente ferroado pelo Espírito Santo e resolveu lutar, gritar, enfrentar tudo e todos para que sua mente continuasse honesta e cativa a Palavra de Deus.

Por que considerar Martinho Lutero? Certamente muitos evangélicos tupiniquins não dão à mínima importância a Reforma Protestante, e acabam que por falta de tantas informações não se aperceberem da sua importância na vida da igreja e da humanidade. Martin Lloyd-Jones nos fala que entre aqueles que rejeitam a memória da Reforma temos, basicamente, dois tipos de argumentação: 1) O passado não tem nada a nos ensinar. Segundo este ponto de vista, o progresso científico e o futuro é o que interessa. Firmadas em uma mentalidade evolucionista, estas pessoas partem para uma abordagem histórica de que "o presente é sempre melhor do que o passado" e assim nada enxergam na história que possa nos servir de lição, apoio, ou alerta. 2) A segunda forma de rejeição parte daqueles que vêem a Reforma como uma tragédia na história religiosa da humanidade. Estes afirmam que deveríamos estar estudando a unidade em vez de um movimento que trouxe a divisão e o cisma ao cristianismo.

Mas, como coloquei, veio logo o reformador em minha mente e sua coragem de enfrentar o papado, que na época tinha mais força nas áreas: social, política, econômica e principalmente religiosa do que atualmente. Não obstante, a esta realidade aparentemente irreversível, o monge de Eislebein foi de fato cativo a sua consciência, que estava cativa as Escrituras Sagradas.  

Agora imagine comigo caro leitor que se esse acontecimento da renúncia do Bento XVI fosse pelos motivos que elenco abaixo ainda absorto nos meus pensamentos.     

O senhor Joseph Ratzinger:

Redescobriu a Bíblia em sua Pureza e Singularidade
Ratzinger levado pelo Espírito Santo leria as 95 Teses de Lutero que traduzem na realidade a volta aos verdadeiros ensinamentos da Palavra. Os ensinamentos da Palavra de Deus na mente do Bento XVI estavam soterrados sob o entulho da tradição. Martin Lloyd-Jones certa feita disse que Lutero e Calvino, foram descobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido, a saber, a pureza e a singularidade da Palavra. 2 Tm 2.5

Redescobriu que Pedro jamais foi Papa
O papa sendo considerado um intelectual conseguiu pela ação iluminatória do Espírito Santo fazer uma exegese e uma hermenêutica corretas do texto em Mateus. “E sobre esta pedra edificarei a minha igreja” Kaì epì taúte(i) tê(i) pétra(i) oikodoméso mou tèn ekklesían. Que estava Jesus a dizer com estas palavras: “e sobre esta pedra”? Que pedra era essa? Que tinha ela a ver com Pedro? Certamente Jesus falava em aramaico. Nessa língua, ambos os termos, Pedro e pedra, são um e o mesmo vocábulo: Kephá, transliterado como Cefas, mas Mateus os distinguiu, mui expressivamente. Então, é evidente que Pedro não é a pedra. Lingüisticamente, pétros é um fragmento, pedaço, porção da pétra, a rocha, a massa pétrea, a sólida e extensa laje, na metáfora de Jesus, de que Pedro seria parte. Linguagem figurada, qual o verdadeiro sentido de pétra? Do contexto parece claro que não se trata de fundamento político, poder e autoridade de senhorio e governo, de dignidade pessoal ou primado pontifício, mas de relação comungatória, discernimento espiritual, lucidez de crença e firmeza de convicção, polarizada na plena aceitação de Cristo como Senhor, Messias, Salvador. Em outros termos, a pétra é o reconhecimento da unicidade senhorial de Cristo, a igreja calcada nessa bendita convicção, a repousar, em seu modus essendi et operandi, na explícita e absoluta confissão de que Pedro foi o marco inicial. Mt 16.18

Redescobriu o Conceito do Pecado
Que todos pecaram e carecem da glória de Deus e que venda de indulgências ainda nos dias de hoje é uma distorção do ensino da necessidade somente da graça para a salvação e que à visão bíblica de que pecado é uma transgressão da Lei de Deus e qualquer falta de conformidade com seus padrões de justiça e santidade. Rm 3

Redescobriu que a Justificação é Somente pela Fé e negou os Cânones 9 e 10
No concílio de Trento, por exemplo, os canônes 9 e 10, escritos no auge da Contra-Reforma mas nunca    ab-rogados até os dias de hoje, dizem o seguinte:
Cânon 9: Se alguém disser que o pecador é justificado somente pela fé, querendo dizer que nada coopera com a fé para a obtenção da graça da justificação; e se alguém disser que as pessoas não são preparadas e predispostas pela ação de sua própria vontade—que seja maldito.
Cânon 10: Se alguém disser que os homens são justificados unicamente pela imputação da justiça de Cristo ou unicamente pela remissão dos seus pecados, excluindo a graça e amor que são derramados em seus corações pelo Espírito Santo, e que permanece neles; ou se alguém disser que a graça pela qual somos justificados reflete somente a vontade de Deus—que seja maldito. Rm 5 e Gl 3

Redescobriu Conceito da Autoridade Vital da Palavra de Deus
A Bíblia é a Palavra de Deus, sendo infalível, inerrante e inspirada. Escrita por homens com supervisão do Espírito, conforme Pedro. O papa é falível, mas a Escritura NÃO. 2 Pe 1.16-21

Redescobriu na Palavra a Doutrina do Sacerdócio Individual
Em Cristo todo regenerado tem livre acesso ao Santo dos Santos, e que cada crente é sacerdote, sem a necessidade de um sacerdote como na vida religiosa da antiga aliança que tem continuidade na liturgia romana até os dias de hoje e que nosso sumo-pontífice é Cristo. Hb 10

Redescobriu o conceito da Soberania de Deus
O pensamento e a epistemologia Tomista influenciaram e por assim dizer moldaram a teologia romana na centralidade do homem, quando afirma seu livre-arbítrio o que Lutero reconheceu que a salvação se constituía em algo mais que uma mera convicção intelectual, pois o homem é escravo de si mesmo e a obra salvífica é unilateral. Certamente ele deixaria de ser molinista.    

Como escrevi no início desse fragmento textual “absorto nos meus pensamentos”, se os motivos pelos quais da renúncia do senhor Joseph Ratzinger fossem palingenesicos,ou seja, motivos regeneradores, ele visitado pelo Espírito Santo seria certamente excomungado do catolicismo romano e seria escândalo para os romanistas do mundo inteiro, mas certamente as suas palavras seriam assim “DEPOIS DE TANTOS ANOS, POR GRAÇA E MISERICÓRDIA FUI CONVENCIDO DO PECADO, DA JUSTIÇA E DO JUIZO E, A PARTIR DAÍ COMECEI A VISITAR VÁRIAS VEZES MINHA CONSCIÊNCIA DIANTE DE DEUS, ANTES DE TOMAR TAL DECISÃO QUE CHAMARIA À ATENÇÃO DO MUNDO, MAS ESTOU TRANQUILO, POIS AGORA SEI QUE MEU ÚNICO E SUFICIENTE SENHOR E SALVADOR VIVE E QUE FORA DELE NÃO HÁ SALVAÇÃO, POIS O JUSTO VIVERÁ POR FÉ”.



sábado, 9 de fevereiro de 2013

A MÃO DE DEUS EM TUDO



Os profetas do Antigo Testamento faziam uma leitura da história e dos acontecimentos de maneira totalmente diferente do modo como hoje fazem os governos, os militares, os cientistas políticos, a televisão e a imprensa. Eles eram menos superficiais em suas análises e em seus recados. Não tomavam o nome de Deus em vão, mas o metiam em tudo. Eles eram profundamente religiosos, mas não fanáticos. A análise deles era global, e não nacionalista. Eles falavam das desgraças próprias e das desgraças alheias. Eles enxergavam a mão de Deus em tudo: na fartura e na fome, na paz e na guerra, na vitória e na derrota, na tranqüilidade e na tragédia. Não temiam seus próprios governos nem os governos das nações estrangeiras. Na visão dos profetas, Deus obviamente supervisiona o curso da ação humana para atingir sempre seus bons e determinados propósitos (At 2.23; 4.28). Por isso Paulo garante que “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Rm 8.28).

A navalha alugada

Quando a Assíria estava para conquistar a região sul de Israel (o reino de Judá), no ano 701 a.C., depois de haver dominado a região norte (o reino de Samaria), 21 anos antes, o profeta Isaías teve a coragem de explicar que aquela nação era “uma navalha alugada do outro lado do rio” para raspar “a cabeça e os pêlos do corpo e também a barba” dos judeus (Is 7.20). O verbo alugar indica tanto a instrumentalidade como a transitoriedade da ação assíria. Em outra fala, o profeta mostra que a Assíria era a vara da ira de Deus, o seu próprio bastão colocado nas mãos de uma nação ímpia, embora ela não soubesse disso e ainda se vangloriasse de seu poderio bélico, dando mais importância ao machado (o mero instrumento) do que ao Lenhador (o que manejava a ferramenta). Era por meio da Assíria que Deus estava castigando Israel e outras nações (Is 10.5-16).

A marreta de Deus

Cerca de 100 anos depois, quando Nabucodonosor tornou-se rei da Babilônia (605 a.C.), o profeta Jeremias teve a ousadia de explicar que ele (o rei) era servo de Deus (Jr 25.9) e a marreta de Deus (Jr 50.23; 51.20). Por meio dessa marreta, ou martelo ou macete, ou malho, ou porrete, Deus amassa, despedaça, destrói, esbagaça, esmaga, esmigalha, espanca, maceta, malha, martela, mata, parte, quebra e rebaixa as nações, seja o povo eleito, sejam os gentios (todos estes verbos aparecem no texto de Jr 51.20-23 em diferentes versões). À semelhança da Assíria, a Babilônia também não tinha plena consciência de que era apenas um martelo eventualmente nas mãos de Deus, que é o Senhor de tudo e de todos. Embora usada por Deus, a Babilônia era responsável por tudo o que fazia, assim como os irmãos de José foram culpados da inveja, do ódio e do crime cometido contra o filho de Jacó e Raquel, e, ao mesmo tempo, instrumentos para que o rapaz se mudasse para o Egito e se tornasse o administrador dos anos das vacas gordas e das vacas magras (Gn 45.4-9). Por isso a própria Babilônia sofreria também o juízo de Deus: “A Babilônia quebrou o mundo a marretadas, e agora a marreta está quebrada em pedaços! Todas as nações estão espantadas vendo o que aconteceu com a Babilônia!” (Jr 50.23).

O amigo de Deus

Ciro, o rei da Pérsia, ocupou a Babilônia no ano 539 a.C. Ele não foi “a navalha alugada” nem “a marreta de Deus”. Antes foi “o pastor de Deus” (Is 44.28), “o ungido de Deus” (Is 45.1), “o homem dos planos de Deus” (Is 46.11) e “o amigo de Deus” (Is 48.18). No primeiro ano do reinado de Ciro, Deus cumpriu a promessa que havia feito ao povo de Israel por intermédio de Jeremias (Jr 29.10) e moveu o espírito do rei da Pérsia de tal modo que ele mandou publicar em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, o seguinte decreto: “O Senhor, Deus do céu, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de construir-lhe um templo em Jerusalém, na terra de Judá. Quem de vós faz parte da totalidade de seu povo? Que seu Deus esteja com ele, e que ele suba a Jerusalém, terra de Judá, para participar na construção da casa do Senhor, Deus de Israel — o Deus que está em Jerusalém. E a todos os sobreviventes, onde quer que residam, as pessoas do lugar proporcionem prata, ouro, bens e animais, além de donativos espontâneos para a casa de Deus que está em Jerusalém.” (Ed 1.1-4; 2 Cr 36.22, 23)

Não mais por meio da dor, não mais por meio da guerra, não mais por meio da vergonha nacional, Deus, então, usaria outro chefe de Estado, Ciro, o grande, para realizar os seus propósitos: “Fui eu [o Senhor] que despertei Ciro para fazer justiça, e faço retos seus caminhos. Ele reconstruirá a minha cidade e porá em liberdade os meus cativos, sem pagamento e sem suborno” (Is 45.13). Ao contrário dos reis da Assíria e dos reis da Babilônia, Ciro tinha plena consciência de que o Senhor é quem segura as rédeas da história, o cabo da navalha e o cabo do machado!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

PARALAXE COGNITIVA



Um dos conceitos mais interessantes estudados por Olavo de Carvalho é, sem dúvida, é o da paralaxe cognitiva. Olavo o define como “afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real anunciado pelo indivíduo”, que teria se expandido após a Modernidade. Antes, os filósofosos antigos e medievais (na maioria) acreditavam que estavam dentro de uma realidade ou cosmos racionalmente ordenado, sem poder observá-lo de fora ou modificá-lo, na base, de acordo com suas vontades ou visões de mundo. A paralaxe é, na definição, como uma distorção de percepção que acaba por destruir a capacidade de conciliar a verdade factual e a teoria reflexiva, muitas vezes até intencionalmente, como em Marx e Epicuro...

Nos debates, eu uso uma “suavização” do conceito de paralaxe cognitiva, que demonstra a contradição entre dois princípios ou entre o princípio e a ação que o indivíduo anuncia. É mais ou menos como seguir o seguinte modelo:

(1) Não entre;
(2) Entrada aqui;
(2) é a negação direta de (1). E mesmo assim, o sujeito bate no peito e grita por todos os cantos as duas idéias ao mesmo tempo.

Onde podemos encontrar isso no neo-ateísmo? Em muitos lugares, para falar a verdade. Se verificarmos o discurso dos neo-ateus militantes na internet, vemos tanto a contradição interna do pensamento como contradição entre a ação e teoria. Um exemplo claro disso seria o seguinte:

(1) Ateus não se importam com a crença dos outros, como os religiosos;
(2) Milito o dia todo para converter às pessoas ao humanismo e termos um mundo melhor;

Ora, se “ateus não se importam” (o que já configura a fraude Representante do Ateísmo) e mesmo assim ele, ateu, passa militando o dia todo? Está na cara que é só um self-selling grupal, escondido pela paralaxe cognitiva.Neo-ateus também gostam muito de atacar a moralidade dos religiosos…. mesmo tendo que admitir uma moralidade subjetiva!

(1) Ateus são mais morais que religiosos, pois não fazem as coisas certas por interesse (“ir pro Céu”);
(2) Não existe moralidade objetiva e absoluta, sendo ela apenas fruto de pressões sociobiológicas;

Alguns outros exemplos, no pensamento humanista em geral:

(1) A ação dos indivíduos é explicada pelas influências correntes ideológicas e sociais dentro de um sistema de materialismo histórico baseado no conflito de classes;
(2) Os crimes de Stálin não podem ser debitados na conta de sua ideologia de esquerda, pois foram causados unicamente pela maldade inata desde homem;
 
Ou ainda:

(1) O conhecimento só é válido se obtido pelo método científico (ou empírico);
(2) O conhecimento obtido em (1) é válido, mesmo não sendo obtido pelo método científico;

(1) Não existe verdade absoluta;
(2) A frase acima, para ser verdade, não pode comportar excessões;
(3) Logo, a frase (1) é uma verdade absoluta, que, conforme (1), não existe;...E assim vai

Para identificar um caso de paralaxe cognitiva, fique atendo se a alegação do adversário não entra em contradições com os próprios princípios teóricos que ele carrega, em geral, ou que sustentam a própria frase específica. Conferir se a idéia enunciado é sustentável em si pelos valores do outro debatedor mesma é uma refutação ex concessis, conforme definida por Schopenhauer no livro Dialética Erística (ver série sobre o livro aqui) e, como disse Olavo de Carvalho nos comentários,“se o argumento pretende ser filosófico, mais lícito ainda é exigir que tenha coerência com o quadro geral das idéias do interlocutor”. (pág. 216, Comentários Suplementares).