Um dos conceitos mais interessantes estudados por Olavo de Carvalho é, sem dúvida, é o da paralaxe cognitiva. Olavo o define como “afastamento entre o eixo da construção teórica e o eixo da experiência real anunciado pelo indivíduo”, que teria se expandido após a Modernidade. Antes, os filósofosos antigos e medievais (na maioria) acreditavam que estavam dentro de uma realidade ou cosmos racionalmente ordenado, sem poder observá-lo de fora ou modificá-lo, na base, de acordo com suas vontades ou visões de mundo. A paralaxe é, na definição, como uma distorção de percepção que acaba por destruir a capacidade de conciliar a verdade factual e a teoria reflexiva, muitas vezes até intencionalmente, como em Marx e Epicuro...
Nos debates, eu uso uma “suavização” do conceito de paralaxe cognitiva, que demonstra a contradição entre dois princípios ou entre o princípio e a ação que o indivíduo anuncia. É mais ou menos como seguir o seguinte modelo:
(1) Não entre;
(2) Entrada aqui;
(2) é a negação direta de (1). E mesmo assim, o sujeito bate no peito e grita por todos os cantos as duas idéias ao mesmo tempo.
Onde podemos encontrar isso no neo-ateísmo? Em muitos lugares, para falar a verdade. Se verificarmos o discurso dos neo-ateus militantes na internet, vemos tanto a contradição interna do pensamento como contradição entre a ação e teoria. Um exemplo claro disso seria o seguinte:
(1) Ateus não se importam com a crença dos outros, como os religiosos;
(2) Milito o dia todo para converter às pessoas ao humanismo e termos um mundo melhor;
Ora, se “ateus não se importam” (o que já configura a fraude Representante do Ateísmo) e mesmo assim ele, ateu, passa militando o dia todo? Está na cara que é só um self-selling grupal, escondido pela paralaxe cognitiva.Neo-ateus também gostam muito de atacar a moralidade dos religiosos…. mesmo tendo que admitir uma moralidade subjetiva!
(1) Ateus são mais morais que religiosos, pois não fazem as coisas certas por interesse (“ir pro Céu”);
(2) Não existe moralidade objetiva e absoluta, sendo ela apenas fruto de pressões sociobiológicas;
Alguns outros exemplos, no pensamento humanista em geral:
Alguns outros exemplos, no pensamento humanista em geral:
(1) A ação dos indivíduos é explicada pelas influências correntes ideológicas e sociais dentro de um sistema de materialismo histórico baseado no conflito de classes;
(2) Os crimes de Stálin não podem ser debitados na conta de sua ideologia de esquerda, pois foram causados unicamente pela maldade inata desde homem;
Ou ainda:
(1) O conhecimento só é válido se obtido pelo método científico (ou empírico);
(2) O conhecimento obtido em (1) é válido, mesmo não sendo obtido pelo método científico;
(1) Não existe verdade absoluta;
(2) A frase acima, para ser verdade, não pode comportar excessões;
(3) Logo, a frase (1) é uma verdade absoluta, que, conforme (1), não existe;...E assim vai
Para identificar um caso de paralaxe cognitiva, fique atendo se a alegação do adversário não entra em contradições com os próprios princípios teóricos que ele carrega, em geral, ou que sustentam a própria frase específica. Conferir se a idéia enunciado é sustentável em si pelos valores do outro debatedor mesma é uma refutação ex concessis, conforme definida por Schopenhauer no livro Dialética Erística (ver série sobre o livro aqui) e, como disse Olavo de Carvalho nos comentários,“se o argumento pretende ser filosófico, mais lícito ainda é exigir que tenha coerência com o quadro geral das idéias do interlocutor”. (pág. 216, Comentários Suplementares).
Para identificar um caso de paralaxe cognitiva, fique atendo se a alegação do adversário não entra em contradições com os próprios princípios teóricos que ele carrega, em geral, ou que sustentam a própria frase específica. Conferir se a idéia enunciado é sustentável em si pelos valores do outro debatedor mesma é uma refutação ex concessis, conforme definida por Schopenhauer no livro Dialética Erística (ver série sobre o livro aqui) e, como disse Olavo de Carvalho nos comentários,“se o argumento pretende ser filosófico, mais lícito ainda é exigir que tenha coerência com o quadro geral das idéias do interlocutor”. (pág. 216, Comentários Suplementares).
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