No entendimento de Calvino, o culto tem o objetivo principal de glorificar a Deus. Todos os elementos da liturgia — leitura, oração, canto, sacramento, sermão — combinam-se para dar voz a uma grande doxologia oferecida pelo seu povo. Calvino rejeitou os outros conceitos do culto, correntes em sua época:
a) O da Igreja Medieval, para a qual a liturgia servia como meio de obter graça e perdão. Calvino ensinou que a graça e o perdão já foram alcançados para nós pelo sacrifício de Cristo. A congregação se reúne, não para obter graça , mas para celebrar com gratidão o dom gracioso da salvação, concedido por Deus aos que crêem;
b) O dos Anabatistas, os quais argumentavam que a finalidade do
culto é proporcionar ânimo e conforto espiritual ao indivíduo. Calvino
contestou esta posição por ser uma inversão do objetivo do culto,
centralizando-o nos sentimentos do crente, ao invés de dirigi-los ao Criador. O
culto reformado não é subjetivo, com ênfase nas emoções religiosas do
indivíduo. É a glória de Deus que buscamos no culto, e está em primeiro lugar.
O nosso próprio benefício espiritual é um dos frutos que resulta da adoração a
Deus. A comunidade cristã se reúne para render ao Senhor “a glória devida ao
Seu Nome”
2. Ênfase na Palavra do
Evangelho
É na Palavra do Evangelho que Deus se revela a seu povo: a) nas leituras das Escrituras Sagradas; b) no sermão; c) na Santa Ceia, em que a mesma Palavra é comunicada por outra maneira.
3. Ênfase no sacramento da
Santa Ceia
Calvino insistia em que a
santa Ceia devia ser celebrada todos os Domingos – (Institutas, IV, XVII). João
Knox também deu a mesma importância ao Sacramento. A mesa da Ceia era o ponto
central no templo (não o púlpito e nem tão pouco um altar), o ministro
dirigindo o culto da mesa, subindo para o púlpito apenas para ler as Escrituras
e para pregar. Em Genebra , os participantes sentavam-se à volta da mesa para
tomar a Ceia do Senhor. Para Calvino, o ponto culminante da liturgia é o
Sacramento.
4. Continuidade com o
passado
A liturgia não era uma “reforma” feita na Missa; era o reestabelecimento do culto da Igreja Primitiva, sem as perversões da Idade Média. O Instrumento com que Calvino contou para efetuar a restauração do culto da Igreja Primitiva foi o Saltério. Nos Estatutos relativos à Organização da Igreja e do Culto em Genebra (1537), Calvino escreveu: “Desejamos que os Salmos sejam cantados na Igreja de acordo com o uso da antiguidade e o testemunho de São Paulo. O canto dos Salmos nos estimula a levantar os nossos corações a Deus”. Juntamente com os Salmos, foram cantados também os credos dos primeiros séculos da Era Cristã, o Decálogo, o Nunc Dimitris e outros hinos do Novo Testamento – todos metrificados. O culto Reformado não era inovação baseada na invenção dos reformadores; tinha profundas raízes no passado nas liturgias do antigo Israel e na Igreja Católica primitiva.
5. Ênfase na participação de
todo o povo
Através dos hinos todo o povo de Deus participava na liturgia. Não era um coro de vozes treinadas, que cantava para uma assistência; era a congregação de Jesus Cristo, que cantava para o louvor e a glória de Deus.
6. “Faça-se tudo decentemente e com ordem”
(I
Coríntios 14:40)
A liberdade dentro dos princípios do Cristianismo Primitivo evitava por um lado, o formalismo de ritos mortos, e portanto, o relaxamento que se observa em muitas igrejas, onde qualquer “salada” serve para o culto e onde não existe qualquer senso de liturgia. Calvino insistiu em que houvesse liberdade disciplinada, na liturgia do culto.
7. Liturgia em função da
Transformação da Igreja e da Sociedade
É importante notar que para Calvino, dar glória a Deus significava
muito mais do que entoar louvores no templo aos Domingos. Para ele, significava
permitir que o Espírito Santo transformasse a vida individual e coletiva de tal
forma que atingisse todos os seus aspectos religiosos, familiares, sociais,
políticos, culturais, para se tornarem um grande salmo de louvor a Deus.
Fonte:Liturgia Reformada - Charles W. Bard
DEO BENEDICTUS ET SEMPER