Senhores Atenienses, Ouçam!

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quarta-feira, 29 de junho de 2011

A FÉ DOS HUMANISTAS: AO MESMO TEMPO O PROTESTANTISMO



Ao mesmo tempo, o protestantismo humanista, que se iniciou com a erupção da alta crítica alemã, está se movendo, por sua parte, cada vez mais na mesma direção. Existe um notável paralelo entre o que sucede no campo liberal católico-romano, e o que se passa no protestantismo. Assim como o antigo catolicismo romano humanista está se transformando no humanismo ainda mais aberto do catolicismo romano liberal, também o antigo protestantismo liberal está desenvolvendo um novo liberalismo. Desde a aparição da teologia kierkegaardiana, isto é, a chamada neo-ortodoxia, se utiliza mais a palavra “Deus”, assim como outros termos religiosos, porém significa menos. No velho protestantismo liberal, as coisas eram, ao menos, certas ou falsas — no espaço, tempo e história —, de um modo que qualquer um poderia entender. No novo protestantismo liberal, a imprecisão que se pode notar nas obras de Teilhard de Charlin, é igualmente aparente. As afirmações do bispo Pike, da Califórnia, devem ser entendidas neste contexto teológico. Ele tem levado simplesmente o novo liberalismo de Kierkegaard, Barth, Brunner e Niebuhr a suas conclusões lógicas, porém falando numa linguagem clara, isenta de termos técnicos, de maneira que a força completa do lendário novo mundo religioso do liberalismo pode ser percebida pelo não especialista. Bultmann e Tillich têm feito o mesmo, conduzindo o pensamento de Kierkegaard a suas conclusões lógicas; e no caso de Tillich, parece provável que ele tenha ido mais longe do que Pike, porém suas obras estão escritas com uma terminologia tão elevada, que somente os que entendem podem dar-se conta da força do que foi escrito. Em todos os casos, a palavra “Deus” veio significando cada vez menos, até ao extremo de que uma pessoa deve se perguntar assombrada se nessa teologia há algum Deus. Esta é exatamente a direção que segue o catolicismo romano humanista em sua nova forma liberal, mostrada por Tielhard de Chardin. Devemos afirmar novamente, desta vez referindo-nos ao protestantismo liberal, que seu Deus não é o bíblico.

No pensamento oriental, a “justificação da vida” é a meditação. Isto não significa que meditando se encontre algo necessariamente, mas que a meditação como tal, dá à vida humana um aparente propósito e significado. No novo liberalismo se encontra a fé, desde Kierkegaard, como um passo nas trevas, como a justificação da vida. Isto está mais em consonância com a mente ocidental que a meditação, porque o passo nas trevas incumbe à ação e, portanto, à vontade de sofrer pela própria ação. Porém, basicamente é o mesmo: o passo nas trevas traz a justificação da vida, e a terminologia religiosa vem sempre sendo usada cada vez mais para que pareça dar um propósito à vida. Porém, nunca se está seguro se nela há realmente algum significado, e a própria palavra “Deus” se torna mais e mais vaga, até desaparecer até mesmo a distinção entre um Deus pessoal ou impessoal. Neste ponto, o catolicismo romano e o protestantismo liberal humanista, ambos em sua nova forma, estão perto de se unirem; e em termos de humanismo, ambos estão relacionados com o conceito clássico grego de idéias e ideais, assim como com os conceitos orientais.

A FÉ DOS HUMANISTAS: UMA CERTA REVOLUÇÃO


Talvez a maior revolução de nossa geração seja a mudança acontecida no catolicismo romano. Alguns podem dizer que na realidade não houve mudança, e que tudo isso é somente um estratagema; porém, seria difícil estar completamente seguro de se efetivamente é esse o caso. O aumento do humanismo na Igreja Católica Romana, em nossa geração, se mostra nos dois âmbitos.

Em primeiro lugar, é um fato que até mui poucos anos atrás Roma havia insistido que os três primeiros capítulos de Gênesis deveriam ser interpretados literalmente. Hoje em dia, quando os científicos católico-romanos se reúnem com os seculares, isto é deixado de lado. Estes homens da ciência romano-católicos não são seculares, mas membros das diversas ordens religiosas. Afirmam-se, nos círculos católico-romanos liberais atuais, que tudo o que devemos aprender do três capítulos do Gênesis é que, no processo evolutivo de animal a homem, a única coisa que se necessitou é que Deus introduzisse em certo momento uma alma racional. Isto é totalmente revolucionário em relação ao que Roma havia ensinado ainda em nossa própria geração, e significa um fortalecimento definido do humanismo.

Em segundo lugar, Roma mudou radicalmente na questão de quem se salva. No passado, o catolicismo romano ensinava, como todavia o faz na Espanha ou no Sul da Itália, por exemplo, que não havia salvação possível fora da Igreja Católica Romana. Hoje em dia, a ênfase recai em que todos os homens sinceros, e de boa vontade, são salvos. Na Igreja primitiva e na Reforma se enfatizou o ensinamento bíblico de que quem não estivesse na Igreja de Cristo (quem não tivesse tomado a Jesus Cristo como Salvador) estaria condenado. Segundo o antigo sistema católico-romano, aqueles que permaneciam fora da organização da Igreja Católica Romana estavam perdidos. Em ambos os casos, nos encontramos com o fato de que havia alguém que estaria perdido. No novo ensinamento católico-romano, com seu acrescentado humanismo, é muito difícil saber quem está perdido; e com respeito aos círculos católico-romanos mais pronunciadamente liberais, não se pode estar seguro se alguém se perde.

Assim, nos achamos ante o velho humanismo, que começou na época de Constantino, da Igreja Católica Romana, porém aumentado agora com o humanismo do moderno catolicismo-romano. Deve-se notar, por conseguinte, que o novo conceito liberal católico-romano não constitui um rompimento absoluto com o antigo catolicismo romano, já que este mesmo tem sido sempre humanista. Constitui simplesmente uma confluência das diversas correntes de um mesmo canal. Deve-se notar, também, que um homem como Teilhard de Chardin, tão popular na Europa e América, corresponde exatamente a esta circunstância.

A FÉ DOS HUMANISTAS: NADA NOVO


A Reforma não reconheceu nem ensinou nada novo. Isto é, nada novo em referência ao ensinamento da Igreja primitiva. A Reforma voltou simplesmente às duas colunas básicas a que nos referimos mais acima. A Palavra de Deus era a única autoridade, e a salvação tinha como base única a obra definitiva do Senhor Jesus Cristo, consumada na cruz. Tudo isso significava a remoção dos elementos humanistas. A Reforma foi revolucionária porque se apartou tanto do humanismo católico-romano, como do secular.

Para entender o que sucedeu depois, deve-se ter em conta que, há uns 250 anos atrás, o humanismo tinha se introduzido na Alemanha, e desta vez nas igrejas que haviam surgido da própria Reforma. Isto foi o nascimento do que na atualidade se chama usualmente liberalismo ou modernismo protestante. A alta crítica alemã e tudo quanto brotou dela até nossa geração, é simplesmente a entrada do pensamento humanista na Igreja protestante depois da Reforma, exatamente como, desde a época de Constantino em diante, o humanismo entrou na corrente da Igreja primitiva. Nunca se enfatizará suficientemente que a alta crítica não sobreveio porque certos fatos a fizeram necessária, mas porque a filosofia humanista sobreveio primeiro. Aceitou-se em primeiro lugar a filosofia humanista, e logo foram adicionados “fatos” que pareciam poder prover uma base conforme a perspectiva humanista. A alta crítica não foi a causa, mas o resultado. Os teólogos protestantes de tal época permitiram a entrada do conceito humanista na Igreja protestante. As duas colunas básicas não humanistas da Igreja foram destruídas de novo. O que devemos entender agora é que, na nossa própria geração, tanto o humanismo do sistema católico-romano como o do protestantismo liberal não diminui, mas que é cada vez mais forte em ambos.

A FÉ DOS HUMANISTAS: AQUINO


O teólogo mais importante da Igreja Católica Romana é Tomás de Aquino. A leitura de sua Summa manifesta claramente a ênfase na mencionada síntese. Assim, o que vimos dizendo não é desconhecido na apresentação da própria Igreja Católica Romana. Tanto em sua arte, como em sua teologia, o catolicismo romano está edificado específica e centralmente sobre o intento de síntese entre os pensamentos humanista e bíblico.

Este elemento humanista do catolicismo romano explica o desenvolvimento da mariologia. Maria representa o mesmo. Tu, homem, individualmente não alcanças a vitória porém, Maria, sim, Maria, venceu. E, deste modo, temos um triunfo vicário do homem. Do mesmo modo, os santos católico-romanos representam também uma humanidade vicária, vitoriosa. O homem triunfou.

Seguindo a atual ênfase comum, que intenta apagar as diferenças entre as diversas religiões, se diz freqüentemente, inclusive por evangélicos, porém afetados por esta tendência, que o catolicismo romano adora ao menos, com toda segurança, ao mesmo Deus que a Igreja primitiva e a Reforma. Desgraçadamente, a resposta é: não. O catolicismo romano não adora ao mesmo Deus. A entrada do elemento humanista no sistema católico fez com que Deus seja considerado como um Deus distinto do apresentado na Bíblia. O Deus bíblico é inteiramente santo. Ele não pode aceitar nem a menor imperfeição moral. Se o Deus totalmente santo quiser tratar com algum homem, depois da rebelião deste, sobre qualquer elemento da obra moral humana, só poderia condená-lo. Por isso, no sistema bíblico, Deus permanece inteiramente santo, e nós vivemos num universo absolutamente moral. No sistema católico-romano, Deus não é totalmente santo, já que aceita a imperfeição. Tal sistema afirma que somos salvos pelo mérito de Jesus Cristo, porém introduzindo o elemento humanista, porque o homem deve merecer o mérito de Jesus Cristo. A saída definitiva do purgatório se baseia no merecimento. Este se obtém: 1) Pelas boas obras nesta vida, tanto religiosas como morais; 2) pelo valor dos sofrimentos experimentados na vida presente, que compensam o que faltou com relação às boas obras; 3) pelo valor do sofrimento que se experimenta no purgatório, o qual compensa o que faltou nos sofrimentos da vida na terra. Quando se tem alcançado isto, o mérito de Cristo é merecido. Tudo isso significa que o homem triunfou. Porém, quer dizer também que se adora a um Deus que não é completamente santo. Desde o ponto de vista bíblico tudo isso é, naturalmente, trágico; porém, para alcançar uma compreensão intelectual disso, deve-se entender também que significa que o cristianismo bíblico conduz finalmente, na realidade, a um Deus humanista, não absoluto. Com pesar, porém com uma finalidade definida, deve-se entender e afirmar que o Deus do sistema católico-romano não é o da Sagrada Escritura. Esse Deus é imperfeito; e o universo não é, portanto, absolutamente moral.

A FÉ DOS HUMANISTAS: OS CRÍTICOS DA ARTE




Os críticos da arte, literatura, etc., entendem estas coisas e as expõem com notável clareza. Numa publicação de Skira sobre Botticelli, Giulio Carlo Argan, italiano, crítico de arte, escreve: “O fato é que, certamente, nos planos políticos e religiosos havia um grande futuro para este sincretismo da arte e da cultura, uma vez que aquele havia sido incorporado ao programa humanista progressivamente estabelecido pela Igreja depois do sério Cisma do Ocidente (1378-1417), já que esse programa facilitava, no final das contas, numa justificação histórica da fé cristã, admitindo a Antiguidade clássica como sua e mostrando-a arrogantemente como a filosofia natural do homem, o prelúdio providencial à revelação da verdade absoluta por Jesus Cristo. Porém esta grandiosa, sistemática síntese de história, natureza e fé, que iria constituir a base ideológica do classicismo de Rafael...” No exposto, Argon resume e explica o humanismo básico da Igreja Católica Romana.

Notem-se três coisas:
I.— Ele diz que se trata de um programa humanista.
II.— Diz que a justificação histórica da fé cristã — justificação ante aqueles que representam a cultura humanista em volta, ante os homens que estão fora da Igreja —, foi proporcionada por uma síntese sistemática.
III.— Destaca que com esta síntese, traça-se uma linha ininterrupta entre a Antiguidade e a verdade revelada em Jesus Cristo.

Tudo está escrito, certamente, numa História de Arte, e desde o ponto de vista da arte; porém, o que disse o autor é verdade de modo geral. O catolicismo romano constitui um intento de síntese entre as noções humanistas em volta e as não humanistas da Escritura.
A pintura do Renascentismo deixa isto sumamente claro. Rafael planejava pintar quatro habitações no Vaticano. Pintou duas, e seus discípulos as outras duas. Um das habitações pintadas pelo próprio Rafael, nos proporciona uma claríssima prova do que descreve Argan como “a base ideológica do classicismo de Rafael”. Numa parede desta habitação pintou a Igreja, tal como a via em sua forma católico-romana, e na oposta, “A Escola de Atenas”. Isto não foi por casualidade, já que o fez assim de propósito. Trata-se de uma expressão artística do intento católico-romano de síntese entre a filosofia humanista, e a não humanista da Palavra de Deus.

No tempo em que Rafael trabalhava no Vaticano, Miguel Ângelo pintava a Capela Sixtina. Devem-se considerar os aspectos de sua obra na mesma. Primeiro, as pinturas do teto; logo, as da parede do fundo.

No abobadado teto pintou uma séria de figuras colocadas de uma forma que dava a impressão de sustentar a seção central do mesmo. Estas figuras correspondem alternativamente a um homem e uma mulher. Colocou o nome correspondente debaixo de todas elas, de modo que não pode haver equívoco com relação ao que estava dizendo. Os homens representam os profetas do Antigo Testamento. As mulheres, as antigas sibilas. Colocou a todos alternativamente como iguais. Eis aqui sua maneira de dizer o que dizia Rafael com suas pinturas do Vaticano. Na abóbada assim sustentada, achamos a representação pictórica do cristianismo.

Assim, Miguel Ângelo entende e expõe claramente como em seu tempo a Igreja Católica Romana se esforçava para realizar a síntese entre o antigo humanismo e o cristianismo bíblico.

A pintura da parede do fundo da Sixtina nos diz a mesma coisa. Representa o Juízo Final, e quando se contempla pela primeira vez, pensa-se que, exceto pelo lugar central de Maria, é uma cena bíblica. Porém, logo se observa a existência de um pequeno barco na parte inferior direita, e se adverte que nos achamos diante do barco no qual os mortos eram conduzidos através da lagoa Estigia, segundo a mitologia pagã. A pessoa então, se dá conta que a cena não procede da Bíblia, mas de Dante, que já trabalho sobre a base da mencionada síntese.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A FÉ DOS HUMANISTAS: UMA MUDANÇA

Uma mudança apareceu nos tempo do imperador Constantino. Este fez paz com a Igreja, porém, começou a se intrometer nela. Esta mudança de direção progrediu lentamente no princípio, e logo com crescente velocidade. Tendo começado com Constantino, foi orientada em sua direção definitiva na época de Gregório o Grande; e não com respeito a questões incidentais, mas ao conceito básico. Tal mudança de direção destruiu as duas únicas colunas, as quais referimos mais acima. A Igreja viria a ser o centro da autoridade, no lugar da Palavra de Deus. Aqui é re-introduzido o elemento humanista. Com relação à segunda coluna, é agora afirmado que a salvação, em vez de descansar somente sobre a completa obra de Cristo — isto é, sua obra consumada no espaço e no tempo, na história — se sustenta também nas obras humanas. No sistema católico-romano, estas obras se acham em três importantes âmbitos. O primeiro é o da missa. Não se considera já, na missa católico-romana, que Jesus Cristo consumou Sua obra no espaço de tempo histórico em que morreu na cruz, mas que Jesus Cristo está sofrendo constantemente. Ele sofre de novo, no sacrifício não sangrento, cada vez que se celebra uma missa. Porém há mais ainda: considera-se que aqueles que participam da missa estão oferecendo a Cristo em sentido ativo. Basta ler o missal católico-romano para dar-se conta da força disto. Cristo é oferecido pelo oficiante, porém quem participa da missa participa em seu oferecimento ativo de Cristo.

Achamos o segundo elemento humanista no âmbito da penitência. Esta é o sofrimento na vida atual, seja religioso, seja de uma maneira geral, para compensar a ausência de boas obras positivas. Assim, o sofrimento tem valor prático.

O terceiro elemento humanista diz respeito ao âmbito do purgatório, no qual o valor do sofrimento se projeta para o futuro. Sofre-se até merecer o mérito de Cristo.

Claro está, que desta maneira se destroem totalmente as duas colunas básicas da Igreja primitiva, e assim encontramos no sistema católico-romano um retorno ao que está especificamente relacionado com os demais sistemas humanistas.

sábado, 18 de junho de 2011

A FÉ DOS HUMANISTAS: DUAS COLUNAS

Duas colunas distinguiam a Igreja cristã primitiva de qualquer outro sistema religioso. A primeira dizia respeito ao fundamental problema da autoridade. Em tal Igreja só existia uma autoridade final: a Bíblia, a Sagrada Escritura. Isto se depreende claramente dos ensinamentos de Jesus, de Paulo e da totalidade do Novo Testamento. Entre os leitores do presente tratado, muitos crerão que a Igreja primitiva estava certa em sustentar este conceito da Escritura; porém, até mesmo aqueles que não o aceitam, deveriam compreender que tal foi o conceito da Igreja, para assim entender intelectualmente a mesma.

Os primeiros cristãos criam que a Sagrada Escritura lhes dava uma autoridade externa ao âmbito do relativista, mutável e limitado pensamento humano. Assim, com esta visão da Palavra, tinham o que consideravam uma autoridade não humanista.

A outra coluna da Igreja primitiva que a diferenciava de todos os demais sistemas religiosos era sua resposta à pergunta: Como se achegar a Deus? Se Deus existe e é santo, perfeitamente santo, vivemos num universo moral. Se Deus não existe ou se é amoral ou imperfeito, vivemos, conseqüentemente, num universo relativo com relação à moral. Por outro lado, se Deus é perfeito, e mantém sua total perfeição, então, como é óbvio que nenhum homem é moralmente perfeito, todos eles estarão condenados. A única coisa que poderia resolver este dilema, verdadeiramente básico, acerca de se o universo é moral ou amoral, seria o ensinamento da Bíblia e da Igreja primitiva. Tal ensinamento foi que Deus nunca diminuiu o nível de Suas normas, que Ele exige perfeição e que, portanto, Ele é completamente moral; e que, porém, por causa do amor de Deus, veio Jesus Cristo como Salvador, e realizou uma obra infinita e definitiva na cruz, de maneira que o homem já pode se achegar ao Deus totalmente santo e perfeito, apoiado nesta obra perfeita e consumada, pela fé e sem obras humanas relativas. Estamos tão acostumados a falar disto dentro de um contexto religioso, que esquecemos das implicações intelectuais. Diremos de novo que, tanto se se crê no que a Igreja primitiva e a Bíblia ensinaram, como se não se crê, deve-se entender este ponto que estamos tratando, ou não se poderá compreender a tal Igreja, nem seu caráter distintivo.

Uma vez que se ensina a exigência por parte de Deus de perfeição total, se mantém a existência de um universo moral; e ao se ensinar a obra perfeita do Salvador, segue-se que não necessariamente todos os homens sejam condenados. Assim, qualquer elemento humanista e egoísta é destruído. Até mesmo se o cristianismo não fosse verdade, e nós cremos que ele o seja, esta seria uma resposta titânica; jamais nenhum outro sistema — seja religioso, seja filosófico — deu semelhante resposta.

Assim, pois, as duas colunas distintivas da Igreja primitiva eram um golpe combinado e completo contra o humanismo. A autoridade ficava fora da mutável jurisdição humana e assim, o acesso pessoal de cada indivíduo ao Deus eternamente santo se baseava, não nos atos morais ou religiosos relativos do homem, mas na absoluta e definitiva obra (e por ser Ele Deus, infinita) de Jesus Cristo. Tudo isto fazia que o homem fosse arrancado do centro do universo, donde havia intentado situar a si mesmo, quando se rebelou contra Deus na histórica queda no Éden, e destruía o humanismo, atacando-lhe no seu próprio coração.