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quarta-feira, 29 de junho de 2011

A FÉ DOS HUMANISTAS: OS CRÍTICOS DA ARTE




Os críticos da arte, literatura, etc., entendem estas coisas e as expõem com notável clareza. Numa publicação de Skira sobre Botticelli, Giulio Carlo Argan, italiano, crítico de arte, escreve: “O fato é que, certamente, nos planos políticos e religiosos havia um grande futuro para este sincretismo da arte e da cultura, uma vez que aquele havia sido incorporado ao programa humanista progressivamente estabelecido pela Igreja depois do sério Cisma do Ocidente (1378-1417), já que esse programa facilitava, no final das contas, numa justificação histórica da fé cristã, admitindo a Antiguidade clássica como sua e mostrando-a arrogantemente como a filosofia natural do homem, o prelúdio providencial à revelação da verdade absoluta por Jesus Cristo. Porém esta grandiosa, sistemática síntese de história, natureza e fé, que iria constituir a base ideológica do classicismo de Rafael...” No exposto, Argon resume e explica o humanismo básico da Igreja Católica Romana.

Notem-se três coisas:
I.— Ele diz que se trata de um programa humanista.
II.— Diz que a justificação histórica da fé cristã — justificação ante aqueles que representam a cultura humanista em volta, ante os homens que estão fora da Igreja —, foi proporcionada por uma síntese sistemática.
III.— Destaca que com esta síntese, traça-se uma linha ininterrupta entre a Antiguidade e a verdade revelada em Jesus Cristo.

Tudo está escrito, certamente, numa História de Arte, e desde o ponto de vista da arte; porém, o que disse o autor é verdade de modo geral. O catolicismo romano constitui um intento de síntese entre as noções humanistas em volta e as não humanistas da Escritura.
A pintura do Renascentismo deixa isto sumamente claro. Rafael planejava pintar quatro habitações no Vaticano. Pintou duas, e seus discípulos as outras duas. Um das habitações pintadas pelo próprio Rafael, nos proporciona uma claríssima prova do que descreve Argan como “a base ideológica do classicismo de Rafael”. Numa parede desta habitação pintou a Igreja, tal como a via em sua forma católico-romana, e na oposta, “A Escola de Atenas”. Isto não foi por casualidade, já que o fez assim de propósito. Trata-se de uma expressão artística do intento católico-romano de síntese entre a filosofia humanista, e a não humanista da Palavra de Deus.

No tempo em que Rafael trabalhava no Vaticano, Miguel Ângelo pintava a Capela Sixtina. Devem-se considerar os aspectos de sua obra na mesma. Primeiro, as pinturas do teto; logo, as da parede do fundo.

No abobadado teto pintou uma séria de figuras colocadas de uma forma que dava a impressão de sustentar a seção central do mesmo. Estas figuras correspondem alternativamente a um homem e uma mulher. Colocou o nome correspondente debaixo de todas elas, de modo que não pode haver equívoco com relação ao que estava dizendo. Os homens representam os profetas do Antigo Testamento. As mulheres, as antigas sibilas. Colocou a todos alternativamente como iguais. Eis aqui sua maneira de dizer o que dizia Rafael com suas pinturas do Vaticano. Na abóbada assim sustentada, achamos a representação pictórica do cristianismo.

Assim, Miguel Ângelo entende e expõe claramente como em seu tempo a Igreja Católica Romana se esforçava para realizar a síntese entre o antigo humanismo e o cristianismo bíblico.

A pintura da parede do fundo da Sixtina nos diz a mesma coisa. Representa o Juízo Final, e quando se contempla pela primeira vez, pensa-se que, exceto pelo lugar central de Maria, é uma cena bíblica. Porém, logo se observa a existência de um pequeno barco na parte inferior direita, e se adverte que nos achamos diante do barco no qual os mortos eram conduzidos através da lagoa Estigia, segundo a mitologia pagã. A pessoa então, se dá conta que a cena não procede da Bíblia, mas de Dante, que já trabalho sobre a base da mencionada síntese.

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