Senhores Atenienses, Ouçam!

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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Carta a um amigo Calvinista




Quem assiste a este vídeo de Caio Fábio, sem ter um pouco de leitura acerca das epistemologias “Calvinista e Arminiana”, certamente ficará impressionado com as elucubrações e articulações com as palavras que ele faz. Mas, como sei que vc tem conhecimento das epistemologias, logo percebeu o reducionismo metodológico usado por Caio Fábio, acerca da ciência teologia e suas áreas de estudo.

Caro amigo ao analisar a fala dele, gostaria de contemplar o vídeo inteiro, até porque não quero ser reducionista como ele foi e, usar de dois princípios da argumentação: argumentum ad ignorantiam e o argumentum ad hominen. Argumentarei contra o conteúdo da sua argumentação e contra ele.

1) Ele começa dizendo a partir do mediador, que a teologia é um problema pra alma humana. Engraçado que tudo que escreveu e continua escrevendo até hoje em seu site, são construções teológicas, ou seja, a teologia dele também seria um problema pra alma dos seus expectadores e leitores? Contradição, não é mesmo.

2) Ele vai falar do argumento linear, onde qualquer pensamento seja arminiano ou calvinista, será defendido a partir de escolhas de versículos, que quando ajuntados formam um pensamento lógico e construto. Ele não argumenta bem, porque a teologia sistemática e dogmática, que é uma das ferramentas da ciência teologia, constrói a soteriologia, a escatologia, a pneumatologia, dividindo a teologia em sistemas que explicam suas várias áreas. Por exemplo, muitos livros da Bíblia dão informações sobre os anjos. Nenhum livro sozinho dá todas as informações sobre os anjos. A Teologia Sistemática coleta todas as informações sobre os anjos de todos os livros da Bíblia e as organiza em um sistema: Angeologia. Isto é a Teologia Sistemática: a organização de ensinamentos da Bíblia em sistemas de categorias. Mas, Caio Fábio não é honesto, pois ele omite que não há somente o pensamento linear como ele chama, mas também o pensamento pontilinear, o que chamamos de teologia bíblica, ou seja, a teologia bíblica é aquela que analisará, por exemplo, a doutrina do Espírito Santo em Gênesis, em Josué, em Isaías, no evangelho de João, em Filipenses, as partes serão estudadas hermeneuticamente e exegeticamente. Aliás, meu irmão, a teologia bíblica e sistemática se complementa, pois no final elas harmonizarão o pensamento de um determinado assunto, em toda a Escritura, com seus diferentes estilos literários, época, contexto social, econômico e cultural.

3) Ele continua não sendo honesto, quando não diz que Calvino usou do método histórico-gramatical, que analisa o “sitz in leben”, ou seja, o conjunto histórico com suas nuances e a analise gramatical do texto, e que as Institutas da Religião Cristã é o mais confiável compêndio do pensamento cristão. A Escritura é inspirada e nada se iguala a Ela, mas homens são iluminados por Deus, para a própria interpretação.

4) Ele diz que a Bíblia é mãe da construção de qualquer pensamento, usando que, isolando textos pode-se criar o pensamento que quiser, mas não é o caso dos teólogos sérios calvinistas, pois usamos regras hermenêuticas, como: analogia da fé, ou seja, a Escritura interpreta a própria Escritura; quando temos dificuldade de interpretarmos um determinado texto, tentamos fazê-lo a partir de textos mais claros acerca do assunto tratado na passagem menos clara, o estudo histórico da passagem, o estudo gramatical e os estilos literários que há na Bíblia.

5) Ele também vai falar de um deus caprichoso, a partir do e-mail enviado a ele, onde comete outra contradição, pois ele critica o isolar de textos, mas o faz quando isola o texto quando profere o que Jesus disse “Eu sou manso e humilde”. Irmão, a Bíblia nos mostra um Deus soberano que faz tudo quanto lhe apraz e todas as coisas foram decretadas por ele, como também revela a responsabilidade do homem em sua livre agência. Se Deus é caprichoso porque escolheu você e não escolheu alguém da sua família, não seria eu ou o homem orgulhoso e caprichoso diante do Deus revelado nas Escrituras. A eleição não é para ficarmos acomodados, mas para vivermos uma vida santa e ativa diante deste Deus maravilhoso que simplesmente resolveu me retirar do império das trevas e me transportar para o reino do Filho de Seu amor. Eu encontro descanso no Deus Santo, Soberano, Gracioso, Justo, Misericordioso e Bondoso revelado nas Escrituras, pois Deus é tudo isso e não somente gracioso, pois senão ele seria um ídolo inventado por mim conforme minhas conveniências, o que Caio Fábio vacila em sua argumentação. Ele infere que se o Deus da Bíblia for assim Ele é arrogante, pelo fato de fazer tudo para Sua glória. Deus é egocêntrico, porque faz tudo para Sua glória. Paulo nos diz "quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, façais para a glória de Deus".  E de fato Deus faz tudo para Sua Glória e daí. Posso conhecer ao Senhor na revelação proposiconal das Escrituras, mas não depreendê-lo totalmente.

6) Ele diz que a eleição é um arbítrio conceitual. Acho que ele se alude que a teologia é um conjunto de conceitos acerca de Deus, mas a Bíblia não é a revelação proposicional do Deus trino e Seu ser, consequentemente Sua forma de agir.  Não podemos nos esquecer caro irmão que Deus é uma pessoa que conhecemos por declarações conceituais e proposicionais. Quem é o Jeferson? Vou responder por sentenças e proposições. Mas, no que concerne a eleição e o arbítrio, quem disse que temos no que concerne a escolha de Deus? E vos vivificou, estando vós mortos em seus delitos e pecados Ef 2.1. O verbo “estar” está no perfeito no tempo verbal grego, que significa algo que aconteceu no passando com efeitos futuros, a saber, Adão pecou e morreu fisicamente e espiritualmente, somos alcançados pelas conseqüências de Adão, em Cristo meu estado é outro o de “vivo”. Esse foi o erro de Ricardo Gondim, com sua teologia relacional, dizendo que Deus é amor e tudo se fundamenta no amor de Deus e sendo assim Deus é um ser em processo, ou seja, ele não conhece toda a história e se frustra com os erros do homem, mas continua o amando. O fundamento de Deus é Ele mesmo e todo seu ser. Grifo meu. Não posso limitar Deus dentro dos meus sentimentos.

7) Ele chama a predestinação de “fatalismo”. A Bíblia como disse antes, nos revela a soberania de Deus e a responsabilidade humana, QUE NÃO SÃO EXCLUDENTES, MAS COMPLEMENTARES. A idéia humanista de fatalismo é um Deus que predestinou e pronto, mas dentro do contexto bíblico a eleição positiva e negativa não é fatalista, pois quantos textos a Bíblia nos mostra que o homem deve agir diante das prescrições do Senhor. Josué mesmo disse “Escolhei hoje a quem sirvais, eu e minha casa serviremos ao Senhor”. Os arminianos vão usar este texto pra disser, o homem é quem escolhe e de certa forma é verdade, mas no contexto mais amplo das Escrituras, Deus decretou que eu iria responder sim para seu chamado de salvação, pois Ele usa minhas volições, que outrora eram cegas, mas com a vida implantada em mim por Ele eu respondo sim “chamamos isso de Concursus que é o suporte contínuo de Deus para a operação de todas as causas secundárias (sejam elas livres, contingentes ou necessárias), para o cumprimento de Seus santos propósitos. O teólogo Louis Berkhof define-o como "a cooperação do poder divino com os poderes subordinados, de acordo com as leis pré-estabelecidas para sua operação fazendo-as atuar, e que atuem precisamente como o fazem." Caio chama a predestinação de fatalismo encurralante, mas quem foi escolhido para salvação será chamado, justificado, santificado e glorificado, mas quem foi preterido será perdido, e existe uma pregação mais refrigeradora e temerosa, pois o que a revelação nos diz é “Deus amou o mundo que enviou o Seu único filho, para quem crê não pereça, mas tenha vida eterna”, não tem como fugir da mensagem do evangelho gracioso e justo. Como diz Paulo em Romanos 9, “quem és tu para discutires com Deus, pois Ele é o oleiro e eu o barro”.

8) Ele diz que Calvino é extremamente limitado na doutrina da predestinação por seu contexto cientifico, filosófico e até por sua limitação do funcionamento universal das leis. Ele diz que Calvino leu a palavra predestinação, soberano e desenvolveu esta doutrina. Meu caro, que analise pobre de Caio Fábio, prova de que nunca leu as Institutas, muito provavelmente fez leituras caricatas, ou seja, fala do que ouviu falar, não foi nas fontes primárias. Ele chama Calvino de pobre Calvino, é hilário.

9) Ele diz que o calvinismo é reducionista, e ler a Bíblia a partir de Calvino é reducionismo idolátrico, então ele diz que a chave hermenêutica dele é Jesus e não um sistema. Nunca os reformadores disseram que temos que ler a Bíblia a partir do pensamento calvinista, mas Deus nos criou como seres pensantes e, Calvino indubitavelmente é um grande pensador das Escrituras, que foi influenciado por Agostinho, que não foi tão bom exegeta como Calvino, mas foi o primeiro pai da igreja a dizer que a salvação é pela graça. Meu caro, Agostinho era um hermeneuta da escola de Alexandria, que por sua vez era muito alegórica, mas foi um grande pensador indiscutivelmente. Quando Caio Fábio diz que sua chave hermenêutica é Jesus e somente Jesus e que devemos olhar para o Novo Testamento, ele o pobre Caio, cai na própria armadilha do reducionismo, pois meu caro eu devo olhar para toda a Escritura, inclusive para Jesus, que fez várias alusões ao V.T. Minha chave hermenêutica é a Bíblia que interpreta a própria Bíblia, com auxílio do Espírito Santo, autor original.

10) Ele diz, esqueça Calvino, mas convoca que a pessoa do e-mail que leia tudo em seu site e assista vem e vê tv, o seu programa. Estranho, mais uma vez não foi honesto, pois devo ler tudo e tudo deve passar pelo crivo das Escrituras e certamente as ferramentas teológicas me ajudarão a entendê-las e vivê-las melhor, para glória de Deus.

Entendo amargura na fala de Caio Fábio, depois de tudo que aconteceu com ele. Desprezo pela teologia, mas fazendo teologia, a ironia gritante com a doutrina, mas ensinado somente Jesus como ele diz, e isso é o que? Um amontoado de palavras acerca de Cristo, ou um conjunto de ensinamentos e idéias.

O caminho da graça, fácil de entender o Cristo pregado por Caio Fábio atualmente, um Deus que é somente exala graça, como explicaria que este Cristo julgará vivos e mortos, e que separará o trigo do joio, e que certamente salva seus escolhidos pela graça.

Quando o homem passa por grandes frustrações na vida, normalmente ele usa de mecanismo de defesa, chamado de racionalismo invertido, ou seja, ele racionaliza opostamente ao que outrora ele defendia, meio pelo qual suaviza o sofrer mais profundo psiquicamente falando.

Abraço,

rev. Jeferson Roberto

terça-feira, 2 de abril de 2013

Perdendo o Bom Senso




por Olavo de Carvalho

Assustado com o número de mensagens falsas altamente comprometedoras que circulam em seu nome na internet, o deputado Jean Wyllys lançou do alto da sua tribuna na Câmara as perguntas desesperadas: "Será que as pessoas perderam todo o senso? Que é que está acontecendo neste país?"

São perguntas que faço há pelo menos vinte anos. Mas não foi só nisso que antecedi o sr. Wyllys. Também foi vinte anos atrás que o meu nome passou a circular como signatário de mensagens nazistas, terroristas, racistas, anti-semitas, o diabo. A isso veio acrescentar-se um caudal inesgotável de lendas urbanas que me apresentavam como espião da CIA ou do Mossad, como beneficiário de verbas do Partido Republicano, como agente comunista enrustido, como mentor secreto do Opus Dei e dos skinheads e, last not least, como guru de uma perigosa seita gnóstica.

 O sr. Wyllys está choramingando por coisa pouca. Em matéria de character assassination, ele mal sentiu o gostinho de um veneno que há décadas me é servido em doses oceânicas. Mas a nossa diferença não é só quantitativa. No caso dele, a mídia solícita e um punhado de ONGs correram para desmentir as mensagens, passando a reputação do deputado por um lava-rápido do qual saiu brilhando com o fulgor beatífico das vítimas inocentes; ao passo que, quando o atingido era eu, até figuras mais conhecidas como os srs. Leandro Konder, Emir Sader e Mário Augusto Jacobskind, à esquerda, ou os srs. Rodrigo Constantino, Anselmo Heydrich e Janer Cristaldo, à direita, se apressaram em legitimar o acervo lendário anônimo, aprimorando-o e acrescentando-lhe novas invencionices de sua própria criação.

A coisa avolumou-se a tal ponto que ultrapassou toda possibilidade de contestação ou revide. Embora o número de pessoas de nível universitário envolvidas nessa operação subisse a vários milhares, caracterizando um fenômeno sociológico de dimensões alarmantes, o sr. Wyllys achou mais escandaloso e mais significativo o fato de que tratamento similar lhe fosse aplicado homeopaticamente, em dose única e diluição infinitesimal.

Quando ele pergunta o que há de errado na mente dos brasileiros, deveria aferir antes de tudo o seu próprio senso das proporções. De qualquer modo, as perguntas valem por si. A vida na sociedade baseia-se na aceitação geral e costumeira de certos princípios tácitos, que servem de critério de julgamento nos instantes de confrontação e dúvida. É o que Antonio Gramsci, dando ao termo uma conotação peculiar, denominava "senso comum".

O próprio Gramsci reconhecia que o senso comum predominante nas nações ocidentais refletia, grosso modo, a cosmovisão cristã, mesmo em versão laicizada e amputada de quaisquer referências religiosas.

A demolição desse senso comum tornou-se desde os anos 60 o objetivo prioritário do combate cultural revolucionário. Mas nem de longe imaginem que "combate cultural" significa uma luta de ideias, uma disputa entre eruditos. Não significa nem mesmo propaganda ou "doutrinação".

As pessoas que me escrevem queixando-se da "doutrinação esquerdista" que seus filhos recebem nas escolas, venho há anos tentando explicar que os bons tempos da doutrinação e da propaganda já acabaram, que há décadas o sistema educacional ameaça a integridade mental das nossas crianças com algo de bem mais perverso e temível: um conjunto de técnicas de manipulação comportamental que permitem moldar ou modificar atitudes e hábitos  diretamente, sem passar pela inculcação de idéias e crenças, isto é, sem qualquer apelo ao pensamento consciente.

Já falei disso no meu livro de 1996, O Jardim das Aflições, e recentemente a Vide Editorial publicou, a conselho meu, a obra-padrão sobre o assunto: Maquiavel Pedagogo ou O Ministério da Reforma Psicológica, de Pascal Bernardin.

 A doutrinação comunista clássica baseava-se nas artes da dialética, da retórica e da propaganda, e procurava inculcar na mente do público uma concepção do mundo, da história e da política, o que não era possível sem mostrá-la como alternativa a alguma concepção concorrente, alimentando discussões.     

As novas técnicas não têm nada a ver com retórica e propaganda. Baseiam-se inteiramente nas chamadas "ciências da gestão": engenharia social, marketing, gerenciamento, psicologia comportamental, programação neurolinguística, Storytelling, Social Learning e Reality Building.

Um dos efeitos mais diretos da aplicação dessas técnicas em escala de massas é a disseminação epidêmica de um estado crônico de "dissonância cognitiva", um quadro mental descrito pioneiramente por Leon Festinger em 1957. Dissonância cognitiva é conflito entre as crenças e a conduta.

Dissonâncias cognitivas temporárias são normais e até desejáveis no desenvolvimento humano. Quando o quadro se torna crônico, rompe-se a unidade da consciência moral e o indivíduo tem de buscar fora dele mesmo, na aprovação grupal ou na repetição de slogans ideológicos, um sucedâneo da integridade perdida. Ao espalhar-se entre a população, a incapacidade de julgar realisticamente a própria conduta resulta na queda geral do nível de moralidade, assim como na disseminação concomitante da criminalidade e das condutas destrutivas, mas isso, segundo os engenheiros sociais, é um preço módico a pagar pela dissolução do senso comum e pela implantação dos novos modelos de conduta desejados.

Antes de posar de vítima da falta de consciência moral dos outros, o sr. Wyllys deveria perguntar se o próprio movimento que ele representa não tem utilizado abundantemente essas técnicas para modificar a conduta de crianças, adolescentes e adultos.