Uma das questões mais
complexas concernentes ao assunto dos “decretos de Deus” é a relação entre a
soberania de Deus e a responsabilidade humana. A teologia reformada, em sua
formulação histórica, sempre adotou uma posição compatibilista.
Em outras palavras, os reformados entendem que Deus decreta todas as coisas
(Ele é absolutamente soberano), sem, com isso, violar a vontade dos homens ou
anular a sua responsabilidade. Firme nesse sentido, a Confissão de Fé de
Westminster afirma:
Desde toda a eternidade, Deus,
pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e
inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do
pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou
contingência das causas secundárias, antes estabelecidas. (CFW, III.I)
Essa
perspectiva é, claramente, paradoxal. Mas, de fato, é assim que as Escrituras
nos ensinam, sem nos dar quaisquer detalhes que nos ajudem a resolver o
paradoxo. Portanto, como servos da verdade revelada, nós nos curvamos diante
dos insondáveis caminhos de Deus em reverente adoração.
Em seu maravilhoso livro Ministrando como o Mestre,
Stuart Olyott nos apresenta uma interessante ilustração acerca do nexo entre a
soberania de Deus e a vontade dos homens. Como o próprio autor reconhece,
trata-se de uma imagem bastante imperfeita, mas talvez tenha utilidade para
alguns:
Posso usar uma ilustração bem
imperfeita? É imperfeita porque sugere uma idéia de controle que não é paralela
à forma como Deus controla os pecadores, mas talvez alguns leitores a
considerem útil. Imagine uma formiga correndo na página que você está lendo.
Ela vai para a direita, vai para a esquerda, diminui a velocidade, aumenta a
velocidade ou pára – ela faz exatamente o que a agrada. Agora trace uma linha
imaginária na superfície da mobília mais próxima. Se quiser, você pode fazer a
formiga seguir aquela linha precisamente. Como ela corre por todos os lados da
página, tudo que você tem a fazer é segurar o livro sobre a linha e manobrá-lo
apropriadamente. Com um pouco de prática você pode fazer o inseto ir exatamente
aonde você deseja que ele vá, embora ele esteja correndo por onde quer! Você é
soberano mas a formiga está fazendo uma escolha real. (Stuart Olyott. Ministrando
como o Mestre: Aprendendo com os
métodos de Cristo. São José dos Campos: Fiel, 2005, p. 42-43.)
“Ó
profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu
conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser
restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas.
A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Romanos 11.33-36).