por Greg L. Bahnsen
A abordagem genial de Van Til reconhece que um método epistemologicamente autoconsciente de defender a fé não é apenas filosoficamente necessário (dada a questão pressuposicional) e moralmente apropriado (dada a relação Criador-criatura). Ele também constitui o desafio intelectual mais forte que pode ser direcionado ao pensamento do incrédulo.
A revelação de Deus é mais do que o melhor fundamento para o raciocínio cristão; é o único fundamento filosoficamente sólido para qualquer raciocínio, seja qual for. Portanto, embora o mundo em sua própria sabedoria veja a palavra de Cristo como loucura, “a loucura de Deus é mais sábia que os homens” (1Co. 1:18, 25). Os cristãos não precisam sentar numa torre filosófica isolada, reduzidos a simplesmente desprezar os sistemas filosóficos dos não-cristãos. Não, ao tomar cada pensamento cativo a Cristo, somos capacitados a destruir o raciocínio que se exalta contra o conhecimento de Deus (cf. 2Co. 10:5). Devemos desafiar o incrédulo a dar uma explicação convincente e plausível de como ele sabe algo, seja o que for, considerando suas pressuposições adotadas sobre a realidade, verdade e o homem (sua “cosmovisão”).
A defesa pressuposicional da fé de Van Til constitui uma ofensa filosófica contra a posição e raciocínio do não-cristão. Seguindo a direção inspirada do apóstolo Paulo, ela pergunta retoricamente: “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?” (1Co. 1:20). Este tema é predominante na prática de Van Til da apologética pressuposicional. A tarefa do apologista não é simplesmente mostrar que não existe nenhuma esperança de salvação eterna fora de Cristo, mas também que o incrédulo não tem nenhuma esperança intelectual presente fora de Cristo. É loucura para ele edificar sua casa sobre a areia ruinosa da opinião humana, ao invés da rocha verbal de Cristo (Mt. 7:24-27). Ele precisa ver que aqueles que suprimem a verdade de Deus em injustiça inescapavelmente “se tornam fúteis em seu raciocínio… Professando serem sábios, se tornam loucos” (Rm. 1:21-22). A oposição deles à fé equivale a não mais que ao “falsamente chamado conhecimento” (1Tm. 6:20-21), pelo qual eles na verdade “se opõem a si mesmos” em ignorância (2Tm. 2:23, 25).
O incrédulo tenta incluir lógica, ciência e moralidade em seu debate contra a verdade do Cristianismo. A apologética de Van Til responde essas tentativas argumentando que somente a verdade do Cristianismo pode resgatar a significância e força da lógica, ciência e moralidade. O desafio pressuposicional ao incrédulo é guiado pela premissa que somente a cosmovisão cristã fornece as pré-condições filosóficas necessárias para o raciocínio e conhecimento do homem, não importando em qual campo. Isso é o que se quer dizer por uma defesa “transcendental”2 do Cristianismo. Sob análise, toda verdade leva alguém a Cristo. Do princípio ao fim, o raciocínio do homem sobre tudo (mesmo o raciocínio sobre o próprio raciocínio) é ininteligível ou incoerente, a menos que a verdade da Escritura cristã seja pressuposta. Qualquer posição contrária à cristã, portanto, deve ser vista como filosoficamente impossível. Ela não pode justificar suas crenças ou oferecer uma cosmovisão cujos vários elementos comportam uns aos outros.
Resumindo, a apologética pressuposicional argumenta pela verdade do Cristianismo “a partir da impossibilidade do contrário”. Alguém que é tão tolo a ponto de agir em sua vida intelectual como se não houvesse nenhum Deus (Sl. 14:1), através disso “despreza a sabedoria e a instrução” e “odeia o conhecimento” (Pv. 1:7, 29). Ele precisa ser respondido segundo a sua tolice – demonstrando para onde os seus princípios filosóficos levam – “para que não seja sábio aos seus próprios olhos” (Pv. 26:5).
Os pontos básicos estabelecidos nas últimas três seções dessa discussão podem ser agora recapitulados. A apologética cristã é uma defesa da fé religiosa, pertencendo assim à questão do comprometimento último de uma pessoa na vida. A apologética exige raciocínio intelectual na justificação das crenças de uma pessoa, tocando assim nas questões epistemológicas do padrão final do conhecimento. Essas observações deixam claro que a defesa da fé é inevitavelmente uma questão pressuposicional. Tanto o incrédulo como o crente operam em termos de certas pressuposições ou cosmovisões assumidas, com o objetivo de desenvolver seu pensamento numa forma que seja consistente com seus respectivos comprometimentos últimos. O apologista cristão necessita argumentar com o não-cristão de uma maneira epistemologicamente autoconsciente, o que não pode acontecer se seu raciocínio e argumentação assumem coisas que são realmente contrárias à sua conclusão pretendida.
Portanto, a autoridade de Cristo e da sua palavra, ao invés da autonomia intelectual, deve governar o ponto de partida e o método de sua apologética, bem como sua conclusão. Ele desafia a adequação filosófica da cosmovisão do incrédulo, mostrando como ela não fornece as pré-condições para a inteligibilidade do conhecimento e da moralidade. Seu caso em favor do Cristianismo, então, argumenta a partir da impossibilidade do contrário. Do princípio ao fim, tanto em seu método filosófico como no que objetiva produzir no pensamento do incrédulo, o apologista cristão raciocina de tal forma “que em todas as coisas Cristo tem a preeminência” (Cl. 1:18).
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1. O termo “transcendental” não deveria ser confundido com a palavra de som similar “transcendente” (um adjetivo para tudo o que está além da experiência humana). O raciocínio transcendental está preocupado em descobrir quais condições gerais devem ser satisfeitas para qualquer caso particular de conhecimento ser possível; ele tem sido central para as filosofias de pensadores seculares tais como Aristóteles e Kant, e se tornou uma questão de investigação na filosofia contemporânea, analiticamente orientada. Van Til pergunta qual visão do homem, mente, verdade, linguagem e do mundo é necessariamente pressuposta por nosso conceito de conhecimento e nossos métodos de consegui-lo. Para ele, a resposta transcendental é suprida no primeiríssimo passo do raciocínio do homem – não por especulação filosófica autônoma, mas por revelação transcendental da parte de Deus. Isso torna a crítica transcendental de Van Til do pensamento incrédulo diferente do que Herman Dooyeweerd chama “crítica transcendental”.
Fonte: Monergismo
A revelação de Deus é mais do que o melhor fundamento para o raciocínio cristão; é o único fundamento filosoficamente sólido para qualquer raciocínio, seja qual for. Portanto, embora o mundo em sua própria sabedoria veja a palavra de Cristo como loucura, “a loucura de Deus é mais sábia que os homens” (1Co. 1:18, 25). Os cristãos não precisam sentar numa torre filosófica isolada, reduzidos a simplesmente desprezar os sistemas filosóficos dos não-cristãos. Não, ao tomar cada pensamento cativo a Cristo, somos capacitados a destruir o raciocínio que se exalta contra o conhecimento de Deus (cf. 2Co. 10:5). Devemos desafiar o incrédulo a dar uma explicação convincente e plausível de como ele sabe algo, seja o que for, considerando suas pressuposições adotadas sobre a realidade, verdade e o homem (sua “cosmovisão”).
A defesa pressuposicional da fé de Van Til constitui uma ofensa filosófica contra a posição e raciocínio do não-cristão. Seguindo a direção inspirada do apóstolo Paulo, ela pergunta retoricamente: “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?” (1Co. 1:20). Este tema é predominante na prática de Van Til da apologética pressuposicional. A tarefa do apologista não é simplesmente mostrar que não existe nenhuma esperança de salvação eterna fora de Cristo, mas também que o incrédulo não tem nenhuma esperança intelectual presente fora de Cristo. É loucura para ele edificar sua casa sobre a areia ruinosa da opinião humana, ao invés da rocha verbal de Cristo (Mt. 7:24-27). Ele precisa ver que aqueles que suprimem a verdade de Deus em injustiça inescapavelmente “se tornam fúteis em seu raciocínio… Professando serem sábios, se tornam loucos” (Rm. 1:21-22). A oposição deles à fé equivale a não mais que ao “falsamente chamado conhecimento” (1Tm. 6:20-21), pelo qual eles na verdade “se opõem a si mesmos” em ignorância (2Tm. 2:23, 25).
O incrédulo tenta incluir lógica, ciência e moralidade em seu debate contra a verdade do Cristianismo. A apologética de Van Til responde essas tentativas argumentando que somente a verdade do Cristianismo pode resgatar a significância e força da lógica, ciência e moralidade. O desafio pressuposicional ao incrédulo é guiado pela premissa que somente a cosmovisão cristã fornece as pré-condições filosóficas necessárias para o raciocínio e conhecimento do homem, não importando em qual campo. Isso é o que se quer dizer por uma defesa “transcendental”2 do Cristianismo. Sob análise, toda verdade leva alguém a Cristo. Do princípio ao fim, o raciocínio do homem sobre tudo (mesmo o raciocínio sobre o próprio raciocínio) é ininteligível ou incoerente, a menos que a verdade da Escritura cristã seja pressuposta. Qualquer posição contrária à cristã, portanto, deve ser vista como filosoficamente impossível. Ela não pode justificar suas crenças ou oferecer uma cosmovisão cujos vários elementos comportam uns aos outros.
Resumindo, a apologética pressuposicional argumenta pela verdade do Cristianismo “a partir da impossibilidade do contrário”. Alguém que é tão tolo a ponto de agir em sua vida intelectual como se não houvesse nenhum Deus (Sl. 14:1), através disso “despreza a sabedoria e a instrução” e “odeia o conhecimento” (Pv. 1:7, 29). Ele precisa ser respondido segundo a sua tolice – demonstrando para onde os seus princípios filosóficos levam – “para que não seja sábio aos seus próprios olhos” (Pv. 26:5).
Os pontos básicos estabelecidos nas últimas três seções dessa discussão podem ser agora recapitulados. A apologética cristã é uma defesa da fé religiosa, pertencendo assim à questão do comprometimento último de uma pessoa na vida. A apologética exige raciocínio intelectual na justificação das crenças de uma pessoa, tocando assim nas questões epistemológicas do padrão final do conhecimento. Essas observações deixam claro que a defesa da fé é inevitavelmente uma questão pressuposicional. Tanto o incrédulo como o crente operam em termos de certas pressuposições ou cosmovisões assumidas, com o objetivo de desenvolver seu pensamento numa forma que seja consistente com seus respectivos comprometimentos últimos. O apologista cristão necessita argumentar com o não-cristão de uma maneira epistemologicamente autoconsciente, o que não pode acontecer se seu raciocínio e argumentação assumem coisas que são realmente contrárias à sua conclusão pretendida.
Portanto, a autoridade de Cristo e da sua palavra, ao invés da autonomia intelectual, deve governar o ponto de partida e o método de sua apologética, bem como sua conclusão. Ele desafia a adequação filosófica da cosmovisão do incrédulo, mostrando como ela não fornece as pré-condições para a inteligibilidade do conhecimento e da moralidade. Seu caso em favor do Cristianismo, então, argumenta a partir da impossibilidade do contrário. Do princípio ao fim, tanto em seu método filosófico como no que objetiva produzir no pensamento do incrédulo, o apologista cristão raciocina de tal forma “que em todas as coisas Cristo tem a preeminência” (Cl. 1:18).
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1. O termo “transcendental” não deveria ser confundido com a palavra de som similar “transcendente” (um adjetivo para tudo o que está além da experiência humana). O raciocínio transcendental está preocupado em descobrir quais condições gerais devem ser satisfeitas para qualquer caso particular de conhecimento ser possível; ele tem sido central para as filosofias de pensadores seculares tais como Aristóteles e Kant, e se tornou uma questão de investigação na filosofia contemporânea, analiticamente orientada. Van Til pergunta qual visão do homem, mente, verdade, linguagem e do mundo é necessariamente pressuposta por nosso conceito de conhecimento e nossos métodos de consegui-lo. Para ele, a resposta transcendental é suprida no primeiríssimo passo do raciocínio do homem – não por especulação filosófica autônoma, mas por revelação transcendental da parte de Deus. Isso torna a crítica transcendental de Van Til do pensamento incrédulo diferente do que Herman Dooyeweerd chama “crítica transcendental”.
Fonte: Monergismo
Via: Eis Nosso Tempo
Traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto
BAHNSEN, Greg L. Van Til’s Apologetic: Readings and Analysis. Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1998, p. 4-7.
BAHNSEN, Greg L. Van Til’s Apologetic: Readings and Analysis. Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1998, p. 4-7.