Método Clássico
O
método clássico é uma abordagem que começa empregando a teologia natural para
estabelecer o teísmo como a cosmovisão correta. Após a existência de Deus ter
sido assim demonstrada, o método clássico passa para uma apresentação das
evidências históricas para a divindade de Cristo, a confiabilidade da
Escritura, etc., a fim de mostrar que o Cristianismo é a melhor versão de
teísmo, em oposição ao, digamos, judaísmo e islamismo. Essa escola é chamada de
método “clássico” porque assume que esse é o método usado pela maioria dos
apologistas importantes dos primeiros séculos. William Lane Craig contribui com
a defesa da apologética clássica desse volume. Outros apologistas
contemporâneos que podem ser classificados como apologistas clássicos incluem
R.C. Sproul, Norman Geisler, Stephen T. Davis e Richard Swinburne.
Costuma-se
argumentar que a ordem das duas fases na apologética clássica é essencial. Isto
é, antes que alguém possa discutir de forma significativa as evidências
históricas, a existência de Deus já deverá ter sido estabelecida, pois a cosmovisão
de uma pessoa é uma grade através da qual os milagres, fatos históricos e
outros dados empíricos são interpretados. Sem um contexto teísta, jamais
poderia demonstrar-se que um evento histórico foi um milagre divino. O outro
lado da moeda dessa afirmação é que ninguém pode apelar a supostos milagres a
fim de provar a existência de Deus. Como Sproul, Gerstner e Lindsley
argumentam, “milagres não podem provar a existência de Deus. Na realidade,
somente Deus pode provar milagres. Isto é, somente sob a evidência anterior de
que Deus existe é que um milagre torna-se possível”. Contudo, ninguém que se
considera um apologista clássico insistirá nesse ponto, como William Lane Craig
deixa claro neste volume (…). Craig argumenta que a metodologia clássica não precisa
insistir na necessidade teórica na ordem desses dois passos, mas apenas, dada a
natureza dos argumentos probabilistas, que essa ordem é a melhor estratégia
argumentativa.
O Método Evidencial
O
método evidencial tem muito em comum com o método clássico, exceto na resolução
do problema com respeito ao valor dos milagres como evidência. O evidencialismo
como método apologético pode ser caracterizado como uma abordagem “de um
passo”. Os milagres não pressupõem a existência de Deus (como afirmam a maioria
dos apologistas clássicos contemporâneos), mas podem servir como um tipo de
evidência a favor da existência de Deus. Esse método é bastante eclético em seu
uso das várias evidências positivas e críticas negativas, utilizando tanto
argumentos filosóficos como históricos. Todavia, ele tende a se focar
primariamente na legitimidade de acumular vários argumentos históricos e outros
indutivos em favor da verdade do cristianismo.
Dado
esse foco, os evidencialistas podem e irão argumentam em favor do teísmo e do
teísmo cristão ao mesmo tempo, sem recorrer a uma teologia natural elaborada.
Eles poderiam começar, por exemplo, argumentando em favor da factualidade
histórica da ressurreição de Jesus e então argumentar que tal evento incomum é
explicável somente se um ser muito parecido ao Deus cristão existir. Tendo
então estabelecido a existência de Deus por meio da ressurreição miraculosa de
Cristo, o evidentalista irá então afirmar que a ressurreição de Jesus também
autentica suas reivindicações de ser Deus encarnado e seu ensino sobre a
autoridade divina da Escritura.
Além de
Gary R. Habermas, um dos contribuintes deste livro, defensores do
evidencialismo incluem John W. Montgomery, Clark Pinnock e Wolfhart Pannenberg
(veja o artigo de Harbermas para vários outros que ele classifica sob esse
método).
O Método do Caso Cumulativo
O
terceiro dos Quatro Grandes é o método do caso cumulativo. O termo “caso
cumulativo” é usado por apologistas de maneiras diferentes daquela que estamos
usando neste contexto, mas Basil Mitchell, um antigo proponente dessa visão,
deu a esse método tal nome, e assim o usaremos aqui. O leitor cuidadoso sem
dúvida observará que esse método pertence à mesma família ampla do método
evidencial (e talvez clássico). Contudo, ficará evidente também que como uma
estratégia argumentativa, o método do caso cumulativo tem algo distinto a
oferecer. De fato, essa abordagem apologética surgiu por causa da insatisfação
que alguns filósofos tinham com os outros métodos do tipo evidencial (i.e., os
dois primeiros dos Quatro Grandes).
De
acordo com os defensores da apologética do caso cumulativo, a natureza do caso
em favor do Cristianismo não é em nenhum sentido estrito um argumento formal
como uma prova ou um argumento de probabilidade. Nas palavras de Mitchell, o
método do caso cumulativo “não se conforma ao padrão ordinário de raciocínio
dedutivo ou indutivo”. O caso é mais parecido com o resumo que um advogado
apresenta num tribunal ou que um crítico literário faz para uma interpretação
particular de um livro. É um argumento esclarecido que reúne várias linhas ou
tipos de dados numa espécie de hipótese ou teoria que explica de forma
abrangente esses dados e faz isso melhor do que qualquer hipótese alternativa.
Paul
Feinberg, o metodologista do caso cumulativo neste volume, diz que “os teístas
cristãos estão insistindo que o cristianismo faça melhor uso de toda a
evidência disponível do que qualquer outra cosmovisão alternativa em oferta,
quer essa alternativa seja alguma oura visão teísta ou o ateísmo”. (…) Os dados
que o caso cumulativo procura explicar inclui a existência e a natureza do
cosmo, a realidade da experiência religiosa, a objetividade da moralidade, e
outros fatos históricos, tais como a ressurreição de Jesus.
Além de
Feinburg e Mitchell, a escola do caso cumulativo incluiria provavelmente C.S.
Lewis e C. Stephen Evans.
O Método Pressuposicional
Devido
aos efeitos noéticos do pecado, os pressuposicionalistas geralmente sustentam
que não existe terreno comum suficiente entre crentes e incrédulos que
permitiria os seguidores dos três métodos anteriores alcançar os seus
objetivos. O apologista deve simplesmente pressupor a verdade do cristianismo
como o ponto de partida apropriado na apologética. Aqui a revelação cristã nas
Escrituras é o quadro através do qual toda a experiência é interpretada e toda
a verdade é conhecida. Várias evidências e argumentos podem ser estabelecidos
em favor da verdade do cristianismo, mas esses no mínimo pressupõem
implicitamente premissas que podem ser verdadeiras apenas se o cristianismo for
verdadeiro. Os pressuposicionalistas tentam, então, argumentar
transcendentalmente. Isto é, eles argumentam que todo significado e pensamento
– na verdade, todo fato – pressupõe logicamente o Deus das Escrituras.
John
Frame representa o pressuposicionalismo neste volume, e ele coloca a questão
dessa forma: “Nós deveríamos apresentar o Deus bíblico, não meramente como a
conclusão a partir de um argumento, mas como aquele que torna o argumento
possível” (…). Ao demonstrar que os incrédulos não podem argumentar, pensar ou
viver sem pressupor Deus, os pressuposicionalistas tentam mostrar que a
cosmovisão deles é inadequada para explicar suas experiências do mundo e fazer
os incrédulos enxergarem que somente o cristianismo pode fazer a experiência
deles ter sentido.
Outros
pressuposicionalistas incluem Cornelius Van Til e Gordon Clark (…), bem como
Greg Bahsen e Francis Schaeffer.
A Abordagem da Epistemologia Reformada
“Desde
o Iluminismo”, diz Clark, “tem havido uma demanda para expor todas as nossas
crenças às críticas esquadrinhadoras da razão” (…). Dizem-nos que se uma crença
não é apoiada por evidência de algum tipo, é irracional crer nela. A
epistemologia reformada desafia essa suposição epistemológica “evidencialista”.
Aqueles que defendem essa visão sustentam que é perfeitamente racional uma
pessoa crer em muitas coisas sem evidência. De maneira mais impressionante,
eles argumentam que a crença em Deus não requer o apoio de evidência ou
argumento para que isso seja racional. A apologista da epistemologia reformada
não evita necessariamente estabelecer argumentos positivos em defesa do
cristianismo, mas ele argumentará que tais argumentos não são necessários para
a fé racional. Se Calvino está correto que os seres humanos nascem com um
sensus divinitatis (senso do divino) inato, então as pessoas podem correta e
racionalmente chegar a ter uma crença em Deus imediatamente, sem o auxílio de
evidências.
Para o
epistemologista reformado, então, o foco tende a estar na apologética negativa
ou defensiva, à medida que desafios à crença teísta são encontrados. No lado
positivo, contudo, o epistemologista reformado irá, nas palavras de Clark,
“encorajar os incrédulos a se colocarem em situações onde as pessoas são
tipicamente apanhadas pela crença em Deus” (…), tentando despertar nelas seu
senso latente do divino.
A lista
de epistemologistas reformados contemporâneos inclui o contribuinte deste
volume, Kelly James Clark, já mencionado. Mas quatro outros nomes que estariam
no topo desta lista seriam Alvin Plantinga, Nicholas Wolterstorff, George Mavrodes
e William Alson.
Novamente,
deixe-me dizer que essas cinco metodologias apologéticas não constituem uma
lista exaustiva de abordagens apologéticas. Elas representam, contudo, as
estratégias argumentativas mais conhecidas e populares na comunidade acadêmica
de apologética. É a minha esperança, bem como dos outros contribuintes, que
essa obra promova discussão frutífera adicional da metodologia apologética e
seja útil à igreja universal e ao Senhor Jesus Cristo.
Fonte: Cowan, Steven B. (editor), Five Views on Apologetics, Zondervan, Grand Rapids, Michigan, 2000. Páginas 15-20.
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