Senhores Atenienses, Ouçam!

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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

APOLOGÉTICAS


Método Clássico
O método clássico é uma abordagem que começa empregando a teologia natural para estabelecer o teísmo como a cosmovisão correta. Após a existência de Deus ter sido assim demonstrada, o método clássico passa para uma apresentação das evidências históricas para a divindade de Cristo, a confiabilidade da Escritura, etc., a fim de mostrar que o Cristianismo é a melhor versão de teísmo, em oposição ao, digamos, judaísmo e islamismo. Essa escola é chamada de método “clássico” porque assume que esse é o método usado pela maioria dos apologistas importantes dos primeiros séculos. William Lane Craig contribui com a defesa da apologética clássica desse volume. Outros apologistas contemporâneos que podem ser classificados como apologistas clássicos incluem R.C. Sproul, Norman Geisler, Stephen T. Davis e Richard Swinburne.
Costuma-se argumentar que a ordem das duas fases na apologética clássica é essencial. Isto é, antes que alguém possa discutir de forma significativa as evidências históricas, a existência de Deus já deverá ter sido estabelecida, pois a cosmovisão de uma pessoa é uma grade através da qual os milagres, fatos históricos e outros dados empíricos são interpretados. Sem um contexto teísta, jamais poderia demonstrar-se que um evento histórico foi um milagre divino. O outro lado da moeda dessa afirmação é que ninguém pode apelar a supostos milagres a fim de provar a existência de Deus. Como Sproul, Gerstner e Lindsley argumentam, “milagres não podem provar a existência de Deus. Na realidade, somente Deus pode provar milagres. Isto é, somente sob a evidência anterior de que Deus existe é que um milagre torna-se possível”. Contudo, ninguém que se considera um apologista clássico insistirá nesse ponto, como William Lane Craig deixa claro neste volume (…). Craig argumenta que a metodologia clássica não precisa insistir na necessidade teórica na ordem desses dois passos, mas apenas, dada a natureza dos argumentos probabilistas, que essa ordem é a melhor estratégia argumentativa.
O Método Evidencial
O método evidencial tem muito em comum com o método clássico, exceto na resolução do problema com respeito ao valor dos milagres como evidência. O evidencialismo como método apologético pode ser caracterizado como uma abordagem “de um passo”. Os milagres não pressupõem a existência de Deus (como afirmam a maioria dos apologistas clássicos contemporâneos), mas podem servir como um tipo de evidência a favor da existência de Deus. Esse método é bastante eclético em seu uso das várias evidências positivas e críticas negativas, utilizando tanto argumentos filosóficos como históricos. Todavia, ele tende a se focar primariamente na legitimidade de acumular vários argumentos históricos e outros indutivos em favor da verdade do cristianismo.
Dado esse foco, os evidencialistas podem e irão argumentam em favor do teísmo e do teísmo cristão ao mesmo tempo, sem recorrer a uma teologia natural elaborada. Eles poderiam começar, por exemplo, argumentando em favor da factualidade histórica da ressurreição de Jesus e então argumentar que tal evento incomum é explicável somente se um ser muito parecido ao Deus cristão existir. Tendo então estabelecido a existência de Deus por meio da ressurreição miraculosa de Cristo, o evidentalista irá então afirmar que a ressurreição de Jesus também autentica suas reivindicações de ser Deus encarnado e seu ensino sobre a autoridade divina da Escritura.
Além de Gary R. Habermas, um dos contribuintes deste livro, defensores do evidencialismo incluem John W. Montgomery, Clark Pinnock e Wolfhart Pannenberg (veja o artigo de Harbermas para vários outros que ele classifica sob esse método).
O Método do Caso Cumulativo
O terceiro dos Quatro Grandes é o método do caso cumulativo. O termo “caso cumulativo” é usado por apologistas de maneiras diferentes daquela que estamos usando neste contexto, mas Basil Mitchell, um antigo proponente dessa visão, deu a esse método tal nome, e assim o usaremos aqui. O leitor cuidadoso sem dúvida observará que esse método pertence à mesma família ampla do método evidencial (e talvez clássico). Contudo, ficará evidente também que como uma estratégia argumentativa, o método do caso cumulativo tem algo distinto a oferecer. De fato, essa abordagem apologética surgiu por causa da insatisfação que alguns filósofos tinham com os outros métodos do tipo evidencial (i.e., os dois primeiros dos Quatro Grandes).
De acordo com os defensores da apologética do caso cumulativo, a natureza do caso em favor do Cristianismo não é em nenhum sentido estrito um argumento formal como uma prova ou um argumento de probabilidade. Nas palavras de Mitchell, o método do caso cumulativo “não se conforma ao padrão ordinário de raciocínio dedutivo ou indutivo”. O caso é mais parecido com o resumo que um advogado apresenta num tribunal ou que um crítico literário faz para uma interpretação particular de um livro. É um argumento esclarecido que reúne várias linhas ou tipos de dados numa espécie de hipótese ou teoria que explica de forma abrangente esses dados e faz isso melhor do que qualquer hipótese alternativa.
Paul Feinberg, o metodologista do caso cumulativo neste volume, diz que “os teístas cristãos estão insistindo que o cristianismo faça melhor uso de toda a evidência disponível do que qualquer outra cosmovisão alternativa em oferta, quer essa alternativa seja alguma oura visão teísta ou o ateísmo”. (…) Os dados que o caso cumulativo procura explicar inclui a existência e a natureza do cosmo, a realidade da experiência religiosa, a objetividade da moralidade, e outros fatos históricos, tais como a ressurreição de Jesus.
Além de Feinburg e Mitchell, a escola do caso cumulativo incluiria provavelmente C.S. Lewis e C. Stephen Evans.
O Método Pressuposicional
Devido aos efeitos noéticos do pecado, os pressuposicionalistas geralmente sustentam que não existe terreno comum suficiente entre crentes e incrédulos que permitiria os seguidores dos três métodos anteriores alcançar os seus objetivos. O apologista deve simplesmente pressupor a verdade do cristianismo como o ponto de partida apropriado na apologética. Aqui a revelação cristã nas Escrituras é o quadro através do qual toda a experiência é interpretada e toda a verdade é conhecida. Várias evidências e argumentos podem ser estabelecidos em favor da verdade do cristianismo, mas esses no mínimo pressupõem implicitamente premissas que podem ser verdadeiras apenas se o cristianismo for verdadeiro. Os pressuposicionalistas tentam, então, argumentar transcendentalmente. Isto é, eles argumentam que todo significado e pensamento – na verdade, todo fato – pressupõe logicamente o Deus das Escrituras.
John Frame representa o pressuposicionalismo neste volume, e ele coloca a questão dessa forma: “Nós deveríamos apresentar o Deus bíblico, não meramente como a conclusão a partir de um argumento, mas como aquele que torna o argumento possível” (…). Ao demonstrar que os incrédulos não podem argumentar, pensar ou viver sem pressupor Deus, os pressuposicionalistas tentam mostrar que a cosmovisão deles é inadequada para explicar suas experiências do mundo e fazer os incrédulos enxergarem que somente o cristianismo pode fazer a experiência deles ter sentido.
Outros pressuposicionalistas incluem Cornelius Van Til e Gordon Clark (…), bem como Greg Bahsen e Francis Schaeffer.
A Abordagem da Epistemologia Reformada
“Desde o Iluminismo”, diz Clark, “tem havido uma demanda para expor todas as nossas crenças às críticas esquadrinhadoras da razão” (…). Dizem-nos que se uma crença não é apoiada por evidência de algum tipo, é irracional crer nela. A epistemologia reformada desafia essa suposição epistemológica “evidencialista”. Aqueles que defendem essa visão sustentam que é perfeitamente racional uma pessoa crer em muitas coisas sem evidência. De maneira mais impressionante, eles argumentam que a crença em Deus não requer o apoio de evidência ou argumento para que isso seja racional. A apologista da epistemologia reformada não evita necessariamente estabelecer argumentos positivos em defesa do cristianismo, mas ele argumentará que tais argumentos não são necessários para a fé racional. Se Calvino está correto que os seres humanos nascem com um sensus divinitatis (senso do divino) inato, então as pessoas podem correta e racionalmente chegar a ter uma crença em Deus imediatamente, sem o auxílio de evidências.
Para o epistemologista reformado, então, o foco tende a estar na apologética negativa ou defensiva, à medida que desafios à crença teísta são encontrados. No lado positivo, contudo, o epistemologista reformado irá, nas palavras de Clark, “encorajar os incrédulos a se colocarem em situações onde as pessoas são tipicamente apanhadas pela crença em Deus” (…), tentando despertar nelas seu senso latente do divino.
A lista de epistemologistas reformados contemporâneos inclui o contribuinte deste volume, Kelly James Clark, já mencionado. Mas quatro outros nomes que estariam no topo desta lista seriam Alvin Plantinga, Nicholas Wolterstorff, George Mavrodes e William Alson.
Novamente, deixe-me dizer que essas cinco metodologias apologéticas não constituem uma lista exaustiva de abordagens apologéticas. Elas representam, contudo, as estratégias argumentativas mais conhecidas e populares na comunidade acadêmica de apologética. É a minha esperança, bem como dos outros contribuintes, que essa obra promova discussão frutífera adicional da metodologia apologética e seja útil à igreja universal e ao Senhor Jesus Cristo.

Fonte: Cowan, Steven B. (editor), Five Views on Apologetics, Zondervan, Grand Rapids, Michigan, 2000.
Páginas 15-20.


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