Senhores Atenienses, Ouçam!

Senhores Atenienses, Ouçam!
Senhores Atenienses, Ouçam!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

“OS APROVEITADORES E VENDILHÕES DO TEMPLO” (Lc.19.45,46)




Reflita sobre as palavras de Jesus quando diz que é possível partilharmos de manifestações milagrosas que não são verdadeiras manifestações dEle mesmo: "Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade" (Mateus 7:22-23).
Isto prova que nos dias de Jesus o povo viu grandes manifestações: homens expulsando demônios, curando enfermos, operando milagres. E multidões se ajuntavam para testemunhar estas coisas. No entanto estas manifestações nem sempre tocavam a consciência das pessoas. Por quê? Porque os que faziam tais coisas nem sempre tinham a semelhança de Jesus. Portanto, não podiam "recomendar-se" às mais profundas necessidades do coração das multidões. As manifestações que estas pessoas traziam não eram de Cristo, mas sinais e maravilhas da carne.

David Wilkerson - 15 de Abril de 2002

 O pecado da simonia – Alderi Souza de Matos

Simonia — a palavra pode ser nova para muitos leitores, mas a prática é bastante antiga no âm­bito do cristianismo. Na Idade Média, surgiu uma série de dis­torções na vida do clero e na administra­ção eclesiástica. Três erros se destacaram por serem considerados especialmente danosos. O primeiro foi o "nicolaísmo", termo derivado incorretamente de Apocalipse 2.15, o fato de que muitos clérigos viviam em concubinato, vio­lando assim os seus votos solenes de castidade e celibato. A segunda prática condenada foram as chamadas "inves­tiduras leigas", isto é, a interferência de governantes civis (reis e imperadores) na nomeação e posse de altos líderes eclesiásticos, como abades e bispos. O terceiro mal na vida da igreja, esse certamente deletério sob todos os pon­tos de vista, foi a "simonia".
Esse comportamento derivou o seu nome de Simão, o mágico, um per­sonagem bíblico que tentou comprar dos apóstolos Pedro e João o poder de conceder o Espírito Santo àqueles sobre os quais ele impusesse as mãos (At 8.18-24). Assim, a simonia veio a se referir à concessão ou obtenção de qualquer coisa espiritual ou sagrada mediante remuneração, fosse ela mo­netária ou de outra espécie. Em outras palavras, era a compra e venda de coisas religiosas. Cometia esse pecado quem oferecia e quem recebia pagamento em troca de um bem espiritual ou eclesiástico. Na Idade Média, referia-se principalmente ao comércio de cargos da igreja. Um papa que se notabilizou por sua luta incessante contra esses ma­les foi Hildebrando, ou Gregório VII (1073-1085), que adotou como lema de seu pontificado as contundentes palavras de Jeremias 48.10: "Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!".
Curiosamente, em certo sentido a Reforma Protestante surgiu como consequência de dois casos de simonia. Um deles foi a compra do arcebispado de Mainz, ou Mogúncia, na Alemanha, pela poderosa família Hohenzollern, mediante uma negociação questioná­vel com o papa Leão X envolvendo altas somas de dinheiro. O segundo caso ocorreu quando o novo arcebispo (e futuro cardeal) Alberto de Brandenburgo promoveu uma venda especial de in­dulgências, cujos rendimentos foram utilizados em parte para saldar a dívida da compra do arcebispado, sendo a outra parte entregue ao papa para fi­nanciar a construção da catedral de São Pedro, em Roma. A reação de Martinho Lutero contra esse comércio do perdão, mediante suas Noventa e Cinco Teses, foi o estopim da Reforma.
Durante séculos, o ministério protestante foi caracterizado por ele­vados padrões éticos, especialmente na sensível área das finanças. Seguindo o exemplo de Cristo e seus apóstolos (At 20.33s; 2Co 11.7), a maior parte dos pastores e líderes procuravam reali­zar o seu trabalho como uma expressão de serviço desinteressado a Deus e às pessoas, isento de ambições materiais. Mesmo indivíduos de grande projeção, como avivalistas e evangelistas de massa (Wesley, Whitefield, Spurgeon, Billy Graham e outros), jamais usaram de seu grande carisma e influência para auferir vantagens pecuniárias e aumentar o seu patrimônio. Tal comportamento sóbrio e consciencioso ocorreu em todos os ra­mos do protestantismo, tanto os tradi­cionais ou históricos como, mais tarde, os pentecostais clássicos.
Esse honroso legado sofreu um abalo lamentável e constrangedor no Brasil, a partir da década de 1970, com o  sur­gimento do chamado neo-pentecostalismo. Firmados numa teologia duvidosa, resultante de uma interpretação tenden­ciosa e altamente seletiva das Escrituras, os principais líderes desse movimento vêm demonstrando uma atitude em re­lação ao dinheiro que em nada difere do velho pecado da simonia. Servindo-se do poderoso veículo da televisão e manipulando com habilidade as carências e ambições de uma considerável parcela da população, esses pregadores têm trans­formado o evangelho e suas bênçãos em mercadoria e fonte de lucro (2Co 2.17; lTm 6.5,10).

A recepção de benefícios como a cura, a prosperidade e a felicidade é con­dicionada à entrega de contribuições, dando-se a entender que as bênçãos serão proporcionais à generosidade do ofertante. Fica inteiramente esquecido o ensino claro de Jesus: "[...] de graça recebestes, de graça dai" (Mt 10.8). Em consequência disso, surgiu uma geração de pastores-empresários que estão se colocando entre os homens mais ricos do país. Dominados pela ganância condenada com tanta veemência nas Escrituras (lTs 2.5; Tt 1.7; IPe 5.2), estão acumulando grandes fortunas na forma de mansões, fazendas, carros de luxo e, agora, o símbolo máximo dos novos ricos - jatinhos particulares. Eles influenciam de tal forma os seus seguidores que estes, além de não ques­tionarem tal procedimento, acham que seus líderes merecem os privilégios que usufruem.
Não se discute que os obreiros cristãos sejam remunerados condignamente pelo seu trabalho (2Co 8.14). O que se lamenta é a mercantilização da fé, que tantos prejuízos têm trazido para a causa de Cristo ao longo dos séculos, obscurecendo a graça de Deus, o seu favor imerecido. Os modernos simoníacos não só estão manchando para sempre a sua própria reputação, mas também contribuindo para prejudicar a imagem de toda a classe ministerial e das comunidades evangélicas. Suas ações têm produzido e continuarão a produzir reações negativas da imprensa, da opinião pública e dos governantes. Eles fariam bem em considerar as pa­lavras ditas pelos apóstolos a Simão, o mágico - e se arrependerem enquanto é tempo.
(Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. asdm@mackenzie.com.rjr)

       

Um comentário:

  1. Estou a tentar visitar todos os seguidores do Peregrino E Servo, pois por uma acção do google meu perfil sumiu e estava a seguir o seu blog sem foto e agora tive de voltar a seguir, com outra foto. Aproveito para deixar um fraterno abraço e muita paz e saúde.
    António Jesus Batalha.

    ResponderExcluir