Senhores Atenienses, Ouçam!

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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Carta a Um Jovem Evangélico que Faz Sexo com a Namorada


Por Augustus Nicodemos

Os nomes foram trocados para proteger as pessoas. Embora algumas circunstâncias mencionadas na carta sejam totalmente fictícias, o caso é mais real do que se pensa...

Meu caro Ricardo,

Ontem estive pregando em sua igreja e tive a oportunidade de rever João, nosso amigo comum. Não lhe encontrei. João me disse que você e a Raquel, sua namorada, tinham saído com a turma da mocidade para um acampamento no fim de semana e que só regressariam nessa segunda bem cedo.

Saí com o João para comer pizza após o culto e falamos sobre você. João abriu o coração. Ele está muito preocupado com você, desde que você disse a ele que tem ido com Raquel para motéis da cidade e às vezes até mesmo depois do culto de jovens no sábado à noite. Ele falou que já teve várias conversas com você mas que você tem argumentado defendendo o sexo antes do casamento como se fosse normal e que pretende casar com Raquel quando terminarem a faculdade.

Ele pediu minha ajuda, para que eu falasse com você, e me autorizou a mencionar nossa conversa na pizzaria. Relutei, pois acho que é o pastor de sua igreja que deve tratar desse assunto. Você e a Raquel, afinal, são membros comungantes dessa igreja e estão debaixo da orientação espiritual dela. Mas, João me disse que o pastor faz de conta que não sabe que essas coisas estão acontecendo na mocidade da igreja. Como sou amigo da sua família fazem muitos anos, desde que vocês freqüentaram minha igreja em São Paulo, resolvi, então, escrever para você sobre esse assunto, tendo como base os argumentos que você usou diante de João para justificar sua ida a motéis com a Raquel.

Se entendi direito, você argumenta que não há nada na Bíblia que proiba sexo antes do casamento. É verdade que não há uma passagem bíblica que diga "não farás sexo antes do casamento;" mas existem dezenas de outras que expressam essa verdade com outras palavras e de outras maneiras. Podemos começar com aquelas que pressupõem o casamento como sendo o procedimento padrão, legal e estabelecido por Deus para pessoas que desejam viver juntas (veja Mateus 9:15; 24:38; Lucas 12:36; 14:8; João 2:1-2; 1Coríntios 7:9,28,39), aquelas que abençoam o casamento (Hebreus 13:4) e aquelas que se referem ao divórcio - que é o término oficial do casamento - como algo que Deus aborrece (veja Malaquias 3:16; Mateus 5:31-32).

Podemos incluir ainda aquelas passagens contra os que proíbem o casamento (1Timóteo 4:3) e as outras que condenam o adultério, a fornicação e a prostituição (veja Mateus 5:28,32; 15:19; João 8:3; 1Coríntios 7:2; 6:9; Gálatas 5:19; Efésios 5:3-5; Colossenses 3:5; 1Tessalonicenses 4:3-5; 1Timóteo 1:10; Hebreus 13:4; Apocalipse 21:8; 22:15). Qual é o referencial que nos possibilita caracterizar esses comportamentos como desvios, impureza e pecado? O casamento, naturalmente. Adultério, prostituição e fornicação, embora tendo nuances diferentes, têm em comum o fato de que são relações sexuais praticadas fora do casamento. Se o casamento, que implica num compromisso formal e legal entre um homem e uma mulher, não fosse a situação normal onde o sexo pode ser desfrutado de maneira legítima, como se poderia caracterizar como desvio o adultério, a fornicação ou a prostituição? A Bíblia considera essas coisas como pecado e coloca os que praticam a impureza sexual e a imoralidade debaixo da condenação de Deus - a menos que se arrependam, é claro, e mudem de vida.

Você argumenta também que o casamento é uma conveniência humana e que muda de cultura para cultura. Bom, é certo que o casamento tem um caráter social, cultural e pessoal. Todavia, do ponto de vista bíblico, não se pode esquecer que foi Deus quem criou o homem e a mulher, que os juntou no jardim, e disse que seriam uma só carne, dando-lhes a responsabilidade de constituir família e dominar o mundo. O casamento é uma instituição divina a ser realizada pelas sociedades humanas. Embora as culturas sejam distintas, e os rituais e procedimentos dos casamentos sejam distintos, do ponto de vista bíblico o casamento implica em reconhecimento legal daquela união por quem de direito, trazendo implicações para a criação e tutela dos filhos, sustento da casa e também responsabilidades e conseqüências em caso de separação e repúdio. Quando duas pessoas resolvem ir morar juntas como se fossem casadas, essa decisão não faz delas pessoas casadas diante de Deus - mas (desculpe a franqueza), pessoas que estão vivendo em imoralidade sexual.

É verdade que a legislação de muitos países tem cada vez mais reconhecido as chamadas uniões estáveis. É uma triste constatação que o casamento está cada vez mais sendo desvalorizado na sociedade moderna ocidental. Todavia, esses movimentos no mundo e na cultura não são a bússola pela qual a Igreja determina seu norte - e sim a Palavra de Deus. Em muitas culturas a legislação tem sancionado coisas que estão em contradição com os valores bíblicos, como aborto, eutanásia, uniões homossexuais, uso de drogas, etc. A Igreja deve ter uma postura crítica da cultura, tendo como referencial a Palavra de Deus.

O João me disse ainda que você considera que o mais importante é o amor e a fidelidade, e que argumentou que tem muita gente casada mas infeliz e infiel para com o cônjuge. Ricardo, é um jogo perigoso tentar justificar um erro com outro. Gente casada que é infiel não serve de desculpas para quem quer viver com outra pessoa sem se casar com ela. Além do mais, como pode existir o conceito de fidelidade numa união que não tem caráter oficial nem legal, e que não teve juramentos solenes feitos diante de Deus e das autoridades constituídas? Mesmo que você e sua namorada façam uma "cerimônia" particular onde só vocês dois estão presentes e onde se casem a si mesmos diante de Deus - qual a validade disso? As promessas de fidelidade trocadas por pessoas não casadas têm tanto valor quanto um contrato de gaveta. Lembre inclusive que não é a Igreja que casa, e sim o Estado. Naqueles casamentos religiosos com efeito civil, o pastor ou padre está agindo com procuração do juiz.

Não posso deixar de mencionar aqui que na Bíblia o casamento é constantemente referido como uma aliança (veja Ezequiel 16:59-63). Deus é testemunha dessa aliança feita no casamento, a qual também é chamada de "aliança de nossos pais", uma referência ao caráter público da mesma (não deixe de ler Malaquias 2:10-16).

Não fiquei nem um pouco surpreso com seu outro argumento para fazer sexo com sua namorada, que foi "é importante conhecer bem a pessoa antes do casamento". Já ouvi esse argumento dezenas de vezes. E sempre o considerei uma burrice - mais uma vez, desculpe a franqueza. Em que sentido ter relações sexuais com sua namorada vai lhe dar um conhecimento dela que servirá para determinar se o casamento vai dar certo ou não? Embora o sexo seja uma parte muito importante do casamento, o que faz um casamento funcionar são os relacionamentos pessoais, a tolerância, a compreensão, a renúncia, o amor, a entrega, o compartilhar... você pode descobrir antes do casamento que sua namorada é muito boa de cama, mas não é o desempenho sexual de vocês que vai manter ou salvar seu casamento. Esse argumento parte de um equívoco fundamental com relação à natureza do casamento e no fim nada mais é que uma desculpa tola para comerem a sobremesa antes do almoço.

Agora, o pior argumento que ouvi do João foi que você disse "a graça de Deus tolera esse comportamento." Acho esse o pior argumento porque ele revela uma coisa séria em seu pensamento, que é tomar a graça de Deus como desculpa para um comportamento imoral. Esse sempre foi o argumento dos libertinos ao longo da história da igreja. O escritor bíblico Judas, irmão de Tiago, enfrentou os libertinos de sua época chamando-os de "homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo" (Judas 4). Esse é o caminho de Balaão "o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição" (Apocalipse 2:14). É a doutrina da prostituta-profetisa Jezabel, que seduzia os cristão "a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos" (Apocalipse 2:20) e a conhecer "as coisas profundas de Satanás" (Apocalipse 2:24).

Como seu amigo e pastor, permita-me exortá-lo a cair fora dessa maneira libertina de pensar, Ricardo, antes que sua consciência seja cauterizada pelo engano do pecado (Hebreus 3:13). Ainda há tempo para arrependimento e mudança de atitude. A abstinência sexual é o caminho de Deus para os solteiros, e esse estilo de vida é perfeitamente possível pelo poder do Espírito, ainda que aos olhos de outros seja a coisa mais careta e retrógrada que exista. Se você realmente pensa em casar com a Raquel e constituírem família, o melhor caminho é pararem agora de ter relações e aguardarem o dia do casamento. Vocês devem confessar a Deus o seu pecado e um ao outro, e seguir o caminho da abstinência, com a graça de Deus.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

"A fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Deus".




A Reforma Protestante do século XVI foi sem sombra de dúvidas um movimento sócio-político. Como tal representou o rompimento com os poderes absolutos de Roma. Porém, mais que um movimento sócio-político, foi um movimento de renovação espiritual, de retorno aos princípios ensinados por Jesus e seus apóstolos.

Traduzir a Bíblia de suas línguas originais para línguas vernáculas sempre foi uma prática do povo de Deus. Antes mesmo de o Novo Testamento ser escrito, o povo judeu já havia traduzido o Velho Testamento para a língua Grega. Esta tradução ficou conhecida como Septuaginta ou versão dos setenta. Nos primeiros séculos da igreja cristã a Bíblia inteira foi traduzida para línguas como siríaco, armênio, latim, gótico, etíope, etc.

Com o fortalecimento da igreja no ocidente e a adoção do latim como língua da igreja, o processo de tradução ficou esquecido. A Igreja Católica havia se dado por satisfeita com a versão latina de Jerônimo e não estimulava sua tradução para outros idiomas, por considerar a Bíblia um livro obscuro e não apropriado para ser lido por leigos.

Assim, a Igreja Católica passou a usar quase que exclusivamente o latim. Como o povo comum não falava esta língua nem a entendia, a compreensão do texto bíblico passava totalmente pelas mãos do clero. Os padres liam e interpretavam, à sua maneira, os ensinos sagrados. Nesse período, o que a igreja dizia tinha peso igual ou maior ao que a Bíblia dizia.

Foi o acesso à Bíblia traduzida e sua comparação com os ensinos da igreja de Roma que provocaram as maiores perdas no rol de membros da Igreja Oficial. À medida que as pessoas descobriam o verdadeiro ensino bíblico se rebelavam contra todo e qualquer ensino que o contradissesse.

A Reforma mostrou que não pode haver verdadeiro cristianismo sem acesso às Escrituras.
Mostrou também que somente as Escrituras devem ser a regra de fé e prática para o cristão.

Finalmente, promover o acesso do povo à Bíblia em sua língua materna deve ser uma tarefa prioritária. Plantar uma igreja e não promover o acesso dessa igreja às Escrituras na língua materna do povo é correr o risco de ver essa igreja nunca amadurecer, ou ainda pior, enveredar por tradições e costumes que não só não estão contidos no texto bíblico, mas ainda o contradizem. Portanto, igreja nos remete para o entendimento da Bíblia, pois como Jesus disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

SOLILÓQUIO




A marca distintiva da sociedade contemporânea é a superficialidade

  • Somos rasos em nossas avaliações - Falta-nos reflexão - Falta-nos introspeção;
  • Estamos atarefados demais e cansados demais para examinarmo-nos a nós mesmos;
  • Corremos atrás de coisas e perdemos relacionamentos;
  • Sacrificamos no altar das coisas urgentes, as coisas que de fato são importantes;
  • Falamos demais, amamos raramente e odiamos frequentemente; 
  • Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos;
  • Fomos e voltamos à lua, mas temos dificuldade de cruzar a rua e encontrar um novo vizinho;
  • Conquistamos o espaço sideral, mas não o nosso próprio espaço;
  • Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores;
  •  Limpamos o ar, mas poluímos a alma;
  • Dominamos o átomo, mas não nosso preconceito;
  • Construímos mais computadores para armazenar mais informação, mas nos comunicamos cada vez menos;
  • Estamos na era do fast-food e da digestão lenta;
  • Do homem grande de caráter pequeno;
  • Lucros acentuados e relações vazias;
  • Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados.

Sabe qual o paradoxo do nosso tempo?
“Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.

Solilóquio é conversar consigo mesmo. É olhar nos olhos daquele que vemos no espelho e enfrentá-lo sem subterfúgios. É entrar pelos corredores da alma e não escapar pelas vielas laterais. É lidar com o nosso mais difícil interlocutor. É falar com o nosso mais exigente ouvinte. A introspecção, porém, é uma viagem difícil de fazer. Olhar para dentro é mais difícil do que olhar para fora. É mais fácil falar para uma multidão do que conversar com a nossa própria alma. É mais fácil exortar os outros do que corrigir a nós mesmos. É mais fácil consolar os aflitos, do que encorajar-nos a nós mesmos. É mais fácil subir ao palco e pregar para um vasto auditório do que conversar com aquele que vemos diante do espelho.

O salmista, certa feita, estava muito triste e percebeu que precisava endereçar sua voz não para fora, mas para dentro. Então disse: “Por que estás abatida ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.11). É preciso dizer à nossa alma que a tristeza não vai durar para sempre. Devemos levantar nossos olhos e saber que Deus está no controle da situação, ainda que agora isso não seja percebido pelos nossos sentidos. Devemos proclamar, em alto e bom som para nós mesmos, que o louvor e não o gemido; a alegria e não o choro é que nos esperam pela frente. Não nos alarmemos com nossas angústias; consolemo-nos com as promessas de Deus.

Não basta reflexão, é preciso introspecção. Não basta falarmos aos outros, precisamos falar a nós mesmos. Não basta lançarmos mão do diálogo, precisamos de solilóquio. O salmista, disse certa feita: “Volta minha alma ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo” (Sl 116.7). Muitas vezes, ficamos desassossegados, quando deveríamos estar em paz. Curtimos uma grande dor na alma, quando deveríamos estar experimentando um bendito refrigério. E por que? Porque deixamos de pregar para nós mesmos. Deixamos de exortar nossa própria alma. Deixamos de fazer viagens rumo ao nosso interior. Deixamos de conversar diante do espelho. Deixamos o solilóquio. É preciso alertar, entretanto, que o solilóquio só é saudável, quando estamos na presença de Deus, quando nossa esperança está em Deus, quando encontramos em Deus nosso refúgio e fortaleza, quando podemos dizer como o salmista: “Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu”.

domingo, 14 de outubro de 2012

DEVE HAVER UMA BORDA




Vivemos em uma época de decisões radicais. A todo momento o   dinheiro, o “status” social, o alto cargo no trabalho ou até mesmo os estudos cobram dos jovens que abram mão de seus princípios e valores cristãos em prol de uma vida de sucesso. Ainda na adolescência vemos as    melhores faculdades e seus vestibulares escravizando milhares deles, os quais, no anseio de um futuro melhor e com mais conforto, se esquecem de viver uma vida  equilibrada espiritual e socialmente para conquistar os seus objetivos. Quando estão na faculdade, boa parte dos jovens pula para o outro lado. Querem curtir a vida ao máximo e acabam perdendo a direção. Sem contar que não conseguem entregar os trabalhos e  deveres e, muitas vezes, usam de vícios corrompidos do sistema universitário para  alcançar o sonhado  diploma.
E quando o diploma vem isso não passa. Começa a etapa de conseguir um emprego, de traçar uma carreira e de adquirir estabilidade financeira. Essa pressão que força o jovem a fazer um pouco mais, se quiser ser feliz, aumenta e reclama sempre mais dele, de uma forma que não acabam nunca as exigências. O mais triste é vê-los negociando os seus princípios com o seguinte discurso: “Vou fazer isso só por um tempo, para conquistar tal coisa, mas quando eu conseguir o que desejo, voltarei a viver o que aprendi como cristão”.
Como se pudéssemos manipular nossos valores! Pensamos que podemos usá-los a  qualquer momento para ter segurança e depois largá-los temporariamente, para  arriscarmos um pouco mais na vida. Isso me faz lembrar um pai que estava tentando    ensinar o filho de 4 anos a nadar. Além do pai, no que mais aquela criança confiava era na borda da piscina. Mesmo sendo uma criança, sabia que enquanto segurava a borda estava segura de se afogar. Ao ver o pai no meio da piscina chamando-a, depois de um bom    tempo, o menino decidiu se arriscar e “nadar” em direção a ele. Foram três braçadas sem sair do lugar até o pai agarrar o menino, que bebeu bastante água. O choro foi inevitável e naquele dia ele não largou mais a borda da piscina.
Qual é o limite da borda? Será que existe um limite? Será que existe essa borda?
Ouvi há muito tempo uma ilustração sobre o inferno que nunca mais saiu da minha cabeça. O pregador falava que o inferno era uma piscina sem fundo, na qual a gente nadava em direção à borda para tentar descansar e parar de se afogar. Porém, cada vez que alguém se aproximava da borda, esta ia se afastando da pessoa e isso se repetia de forma angustiante e sem fim, em um desespero eterno. Assim é quando acreditamos que podemos abrir mão de nossos princípios e valores cristãos. É um caminho pequeno de ida e gigantesco de volta. Simplesmente porque a borda não para de se distanciar.
É nítido ver esse distanciar do caminho de volta no discurso do jovem quando ele diz: “Só mais esse mês”. E depois: “Só mais esse ano”. E assim se passa uma vida. Negociar com os princípios do evangelho, com a ética no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos, na vida, é largar uma borda que se distanciará cada vez mais de você. Oro para que a  mensagem de Jesus Cristo faça parte de quem você é e de quem eu sou. Que seja algo indissociável, que nunca entra em discussão. Se assim for, as oportunidades que estão fora desses valores não serão encaradas como oportunidades, e sim como tentações.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Lucas 9.28-36


Bispo Ryle

O evento descrito nestes versículos, habitualmente chamado de “a transfiguração”, é um dos mais notáveis na história do ministério terreno de nosso Senhor. É uma passagem que sempre devemos ler com especial gratidão. Remove uma parte do véu que permanece sobre as coisas referentes ao mundo por vir e esclarece algumas das verdades mais profundas do cristianismo.

Primeiramente, esta passagem nos mostra algo da glória que Cristo terá em sua segunda vinda. Somos informados que “a aparência do seu rosto se transfigurou e suas vestes resplandeceram de brancura”; e os discípulos que estavam com Ele “viram a sua glória”.

Não devemos ter dúvidas de que esta maravilhosa visão aconteceu com o propósito de encorajar e fortalecer os discípulos de nosso Senhor. Eles tinham acabado de ouvir a respeito da crucificação e morte de seu Senhor, do negar a si mesmos e dos sofrimentos aos quais teriam de sujeitar-se, se desejassem ser salvos. Agora foram animados por meio de uma breve contemplação “da glória que os seguiria” (1Pe 1.11) e da recompensa que todos os fiéis servos de Cristo um dia receberiam. O Senhor lhes fizera ver o dia de sua própria fraqueza; agora estavam contemplando, por alguns minutos, uma amostra de sua glória futura.

Devemos nos fortalecer com o pensamento de que para todos os verdadeiros crentes encontram-se entesouradas coisas boas, que compensarão as aflições do tempo presente. Agora é o tempo de tomar a cruz e compartilhar da humilhação de nosso Senhor. A coroa, o reino e glória ainda estão por vir. No presente, Cristo e seu povo, assim como Davi, encontram-se na caverna de Adulão, desprezados e considerados insignificantes pelo mundo. Parece não haver beleza e formosura nEle e em sua obra. Mas vem a hora, e será em breve, quando Cristo exercerá seu grande poder, reinará e colocará os inimigos debaixo de seus pés. Então, a glória que, durante alguns minutos, foi vista apenas por três discípulos no monte da Transfiguração será contemplada por todo o mundo e não será mais ocultada por toda a eternidade.

Em segundo, esta passagem nos mostra a segurança de todos os verdadeiros crentes que partiram deste mundo. Quando nosso Senhor apareceu em glória, Moisés e Elias foram vistos em pé ao seu lado, conversando com Ele. Moisés morrera havia mais de quinze séculos. Elias fora levado ao céu em um redemoinho há mais do que novecentos anos antes deste acontecimento. No entanto, estes dois homens crentes foram vistos novamente, vivos e, não somente vivos, em glória.

Devemos nos consolar no bendito pensamento de que a ressurreição e a vida futura são realidades. Tudo não acaba quando morremos. Existe outro mundo além desta vida. Mas, acima de tudo, devemos nos fortalecer com o pensamento de que até que o dia amanheça e aconteça a ressurreição, o povo de Deus está seguro na companhia de Cristo. Muitas coisas a respeito da atual condição deles são profundamente misteriosas para nós. Em que lugar específico está a habitação deles? O que eles sabem a respeito das coisas que acontecem na terra? Estas são perguntas que não podemos responder. Mas para nós deve ser o bastante saber que Jesus está cuidando deles e os trará juntamente consigo no último dia. Aos seus discípulos Ele mostrou Elias e Moisés, no monte da Transfiguração, e nos mostrará, em sua segunda vinda, todos os que já morreram em Cristo. Nossos irmãos em Cristo estão sendo bem preservados; estão salvos e apenas nos antecederam.

Em terceiro, esta passagem nos mostra que os santos do Antigo Testamento que estão na glória se interessavam intensamente na morte expiatória de Cristo. Quando Moisés e Elias apareceram em glória ao lado de Cristo, no monte da Transfiguração, conversaram com Ele. E qual era o assunto da conversa? Não precisamos fazer suposições e imaginar coisas a respeito disto. “Falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém.” Conheciam o significado daquela morte. Sabiam quantas coisas dependiam da morte de Cristo. Portanto, “falavam” a seu respeito.

É um grave erro supor que os crentes do Antigo Testamento nada sabiam no que se refere ao sacrifício que Cristo deveria oferecer pelos pecados dos homens. Sem dúvida, a luz que possuíam era menos nítida do que a nossa. Viam à distância e sem clareza coisas que vemos como se estivessem bem próximas aos nossos olhos. Porém não existe a menor evidência de que os crentes do Antigo Testamento olhavam para qualquer outra satisfação dos seus pecados, exceto aquela que Deus prometera realizar, ao enviar seu Messias. Desde Abel em diante todos os crentes do Antigo Testamento parecem ter descansado na promessa de um sacrifício e de um sangue de onipotente eficácia que ainda se manifestaria. Desde o começo do mundo, sempre existiu tão-somente um fundamento de esperança e paz para os pecadores — a morte de um poderoso Mediador entre Deus e os homens. Este fundamento é a verdade central de todo o cristianismo. Foi o assunto a respeito do qual Moisés e Elias estavam conversando, quando apareceram em glória. Falavam sobre a morte de Cristo.

Observemos que a morte de Cristo é o alicerce de toda a nossa confiança. Nada mais nos outorgará conforto na hora da morte e no Dia do Juízo. Nossas próprias obras são imperfeitas e defeituosas. Nossos pecados são mais numerosos do que os cabelos de nossa cabeça (SI 40.12). A morte por nossos pecados e a ressurreição de Cristo em favor de nossa justificação têm de ser a nossa única garantia, se desejamos ser salvos. Feliz é aquela pessoa que aprendeu a cessar suas obras e a se gloriar unicamente na cruz de Cristo! Se os crentes na glória veem na morte de Cristo tanta beleza, que sentem necessidade de conversar sobre ela, quanto mais deveriam fazê-lo os pecadores na terra.

Por último, esta passagem nos mostra a imensa distância que existe entre Cristo e todos os outros ensinadores que Deus outorgou à humanidade. Lucas nos conta que Pedro, “não sabendo… o que dizia”, propôs fazerem “três tendas”: uma seria para Jesus, outra, para Moisés, e outra, para Elias; como se os três merecessem a mesma honra. Mas esta proposta foi imediatamente censurada de maneira notável: “Veio uma voz, dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi”. Aquela era a voz de Deus, o Pai, reprovando e instruindo. Aquela voz proclamou aos ouvidos de Pedro que, embora Moisés e Elias fossem grandes, ali estava Alguém que era maior do que eles. Moisés e Elias eram apenas súditos, Jesus era o Filho do Rei. Eles eram apenas pequenas estrelas; Jesus era o Sol. Eram apenas testemunhas; Jesus era a própria verdade.

Estas solenes palavras do Pai devem sempre ecoar em nossos ouvidos e tornarem-se o conceito fundamental de nosso cristianismo. Honremos os ministros do evangelho por amor ao Senhor deles. Sigamos os seus ensinos até ao ponto em que eles seguem a Cristo. Entretanto, nosso principal objetivo deve ser ouvir a voz de Cristo e O seguir por onde quer que Ele vá. Outros podem ouvir a voz da igreja e se contentarem em dizer: “Escuto este ou aquele pastor”. Jamais nos sintamos satisfeitos, a menos que o Espírito Santo testifique em nosso coração que ouvimos a voz do próprio Cristo e somos discípulos dEle

domingo, 7 de outubro de 2012

AS QUATRO FALHAS ESPIRITUAIS


Existem quatro concepções errôneas sobre a espiritualidade e a maturidade cristã que simplesmente não são à prova d'água. Advertência: Elas podem ser uma surpresa para você, talvez até um choque; portanto, fique firme.
Primeira Falha: Por ser cristão, todos os seus problemas serão resolvidos. Prestamos um grande desserviço a um in­crédulo quando o fisgamos com a frase: "Venha a Cristo e todos os seus problemas vão acabar". A Bíblia nunca diz isso. Ela promete que seremos novas criaturas, garante que teremos um destino seguro, mas não pressupõe uma desci­da suave ladeira abaixo uma vez que Cristo entre na vida da pessoa. De fato, em alguns casos os problemas aumen­tam e a estrada fica mais difícil!
Segunda Falha: Todos os problemas que terá de enfrentar estão mencionados na Bíblia. Não estão. É bem pouco sábio fazermos declarações amplas, abrangentes, em relação a pontos sobre os quais as Escrituras não falam. Muitas ve­zes não encontramos uma resposta explícita na Escritura para o nosso problema específico. Nessas ocasiões, somos forçados a andar pela fé, confiando no Senhor para mos­trar-nos o próximo passo conforme necessário. A Bíblia simplesmente não oferece uma resposta específica para cada problema da vida.
Terceira Falha: Se você está tendo problemas é porque lhe falta espiritualidade. Não é triste que essa idéia seja anunciada em muitos lugares hoje? A existência de um problema simplesmente mostra que você é humano! Todos temos problemas e você não deixa de ser espiri­tual porque luta com um dilema. Na verdade, muitos dos homens e mulheres mais espirituais que conheço enfrentaram alguns dos mais difíceis problemas que a vida oferece.
Pense em Jó e no seu sofrimento. Ele não tinha uma resposta. Ele não compreendia o porquê. Seus conselheiros, com suas declarações rígidas e precipitadas, estavam total­mente enganados; eles também não sabiam as respostas. Embora Jó fosse espiritual, tinha problemas enormes.
Quarta Falha: A exposição a ensinamentos bíblicos sólidos resolve automaticamente os problemas. A instrução bíblica por si só não resulta em soluções instantâneas dos problemas. Por mais confiável que seja o ensino, ou quão talentoso o professor, a declaração da verdade não proporciona a re­moção das dificuldades.
Pense nas Escrituras como um mapa absolutamente exa­to. O mapa lhe diz como chegar a um determinado desti­no. Mas o fato de apenas olhar um mapa não irá transportá-lo automaticamente à Grécia, à Inglaterra ou ao Peru. Para chegar a esses lugares você terá de se esforçar... pagar o preço... arranjar tempo para a viagem... permanecer nela até chegar ao destino.
O mesmo acontece na vida cristã. O mapa de Deus é confiável e está disponível. Ele também é claro e direto. Não há, porém, nenhum artifício em suas páginas que en­vie automaticamente o leitor ao seu destino por meio de um tapete mágico.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

EXPECTATIVAS REALISTAS



Crescendo e aprendendo. Esse é um resumo da vida cristã, não é? Parece-me que mais pessoas da família de Deus deveriam admitir que há um número maior de dias de "cres­cendo e aprendendo" do que de dias "maravilhosos e fan­tásticos". E não há nada de vergonhoso nisso. Crescer e aprender são experiências saudáveis, normais. Ambas es­tão ligadas a um processo... e esse processo é algumas ve­zes penoso, com freqüência lento, e, categoricamente, me­donho em certas ocasiões. É como dar três passos para a frente e dois para trás.
Não entenda mal. Jesus continua sendo o Senhor. Deus ainda é bom. A vitória é nossa. Não obstante, a vida é problemática. Não é uma Disneylândia. Um jardim de ro­sas. Ou uma delícia eufórica completa com fogos de artifí­cio e sons jubilosos. Ou ainda milagres diários que fazem nosso orçamento equilibrar-se e recarregam nossas bateri­as descarregadas. Tais expectativas não são só irreais, mas também não-bíblicas.
Ouça o apóstolo Paulo:
Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém nao des­truídos.

2 CORÍNTIOS 4:8-9

É precisamente disso que este livro trata: perseverar em meio às aflições, tristezas, golpes da vida sem desespe­rar e desistir.
Você deve saber também que os cli­chês exagerados sobre a "vida abundante" não traduz a verdadeira espiritualidade. Este não é um escrito do tipo "apenas-sorria-e-diga-louvado-seja-o-Senhor". Sinto-me, porém, muito entusiasmado com a idéia de com­partilhar o modo como Jesus Cristo ficará com você quan­do errar, sentir-se profundamente magoado ou incompre­endido, desejando desistir.
Veja bem, em minha opinião, a abundância dele ofusca tanto as marés baixas em nossas vidas quanto os períodos lu­minosos e belos de alegria e êxtase. De fato, quando chegamos ao fundo e começamos a nos sentir inseguros é que o Senhor se insinua pela porta de trás e proporciona estabilidade.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Livre-arbítrio: Afinal, temos ou não temos?

 


 Introdução

Neste estudo, iremos procurar entender a questão que envolve o termo “Livre-arbítrio”.
Trata-se de um tema que trouxe grande discussão durante alguns períodos da História. O entendimento diferente acerca deste tema, ou seja, a defesa da existência de um “livre-arbítrio” ou a sua negação, tem divido pessoas até hoje.
Mas, afinal temos ou não temos livre-arbítrio, ou livre-liberdade?[1] É isto mesmo que iremos verificar, não só analisando as posições teológicas acerca do assunto, mas, buscando luz da Bíblia para clarear nosso entendimento.
Antes de mais nada precisamos definir o que seja esse tal “Livre-arbítrio”:

1. Livre-arbítrio

“Livre-arbítrio”, tem sido definido, como a capacidade dada ao homem, por ocasião de sua criação,  para escolher entre o bem e o mal, entre agradar a Deus ou desobedecê-Lo. Seria o “livre poder de eleger o bem ou o mal”.[2]
Héber Carlos de Campos também a define como tendo sido a capacidade que o homem teve, “de escolher as coisas que combinavam com a sua natureza santa, mas que, mutavelmente, pudesse escolher aquilo que era contrário à sua natureza santa”.[3]
              Vejam que tais definições estão de acordo com o que prescreve a nossa Confissão de Fé: “O homem em seu estado de inocência tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder.” [4] É importante dizermos que quanto à definição, não existe dificuldade. O problema todo que envolve o tema, é se o homem hoje, depois da queda , possui ou não esse tal de livre-arbítrio.Antes mesmo de entrar propriamente na discussão, se o homem ainda dispõe dessa capacidade, precisamos dizer algo acerca de uma faculdade natural e inalterada no homem, mesmo depois da queda, chamada de “livre agência” ou “capacidade de escolha”.

2. Livre Agência ou Capacidade de Escolha

               Existe no homem uma capacidade tal que lhe dá condições de fazer escolhas, de acordo com o que lhe é agradável. O homem sempre e em qualquer condição, faz as suas escolhas, de tal forma que ele é responsabilizado por elas. “Essa capacidade ou aptidão é um aspecto inalienável da natureza humana normal”.[5] Ele é livre para escolher o que lhe agrada, de acordo com suas inclinações.
               Comentando acerca desta seção da CFW, A. A. Hodge diz o seguinte: ...que a alma humana, inclusive todos os seus instintos, idéias, juízos, emoções e tendências, tem o poder de decidir por si mesma; isto é, a alma decide em cada caso como geralmente lhe agrade.[6]
               O homem é livre para escolher, sendo que nada externamente pode forçar suas escolhas. Isto é essencial no homem, faz parte da sua criação a imagem e semelhança de Deus. Como nos  diz  Hoekema “À parte dela, não pode haver qualquer responsabilidade, confiança ou planejamento. À parte dela, não pode haver educação, religião ou adoração. À parte dela, não pode haver qualquer arte, ciência ou cultura. A capacidade de escolher é uma condição sine qua non de toda a vida humana”.[7]

A definição de Campos sobre este assunto é também esclarecedora:

Livre Agência, por outro lado, poderia ser definida como a capacidade que todos os seres racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles.[8]

Campos ainda falando sobre este aspecto, enfatizando a responsabilidade humana em suas escolhas diz:
É importante que o ser racional que ele aja sempre movido pelo seu ego. A responsabilidade dele sempre estará diretamente ligada à voluntariedade do seu ato. Todos os atos dele devem ser auto-inclinados e auto-determinados. Portanto, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o poder de escolha contrária, mas sim, que haja o poder de auto-determinação, que a ação seja nascida nas inclinações do ser racional.[9]

                 Pelo que ficou demonstrado, em qualquer época o homem é livre para agir conforme sua condição, sua natureza, ou seja, ele sempre faz o que quer conforme a sua inclinação.

3. A queda do homem: O que aconteceu ao livre-arbítrio?

             Como dissemos acima, na criação o homem recebeu a capacidade de fazer escolhas e possuía também a liberdade de fazer escolhas certas, ou seja, podia escolher agradar a Deus, de tal forma que pudesse cair desse estado em que foi criado. O homem foi criado totalmente santo, integro, contudo podia escolher algo que fosse contrário a essa sua natureza. E foi isso o que aconteceu, ou seja, escolheu pecar. Hoekema diz “No princípio, portanto, o homem não era um ser neutro, nem bom nem mau, mas um ser bom que era capaz de, com a ajuda de Deus, viver uma vida totalmente agradável a Deus”.[10] Como dizia Agostinho, o homem tinha a “capacidade de não pecar” (posse non peccare).
          Neste sentido, até antes de sua queda podemos dizer, o homem possuía o livre-arbítrio, contudo com a desobediência, ele perdeu tal capacidade, sendo que não mais consegue fazer escolhas certas, não consegue agradar a Deus. Suas escolhas serão sempre determinadas pelo estado em que caiu. Suas escolhas serão de acordo com a sua natureza.  É neste ponto que surgem então discussões, pois, diferente da posição Reformada Calvinista, os Arminianos irão afirmar que o homem ainda  possui o livre-arbítrio. Ele pode sem a intervenção de Deus, em seu estado natural, fazer escolhas espirituais acertadas.
       Para os arminianos a queda do homem, embora tenha trazido algum prejuízo não afetou totalmente o homem, sendo que, continua em seu estado natural a ter habilidades para escolher a salvação, para escolher agradar a Deus. Desta forma, a depravação não foi total.

Vejam mais detalhadamente a posição dos arminianos[11] quanto a depravação do homem:

Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem não ficou reduzido a um estado de incapacidade total. Deus, graciosamente, capacita todo e qualquer pecador a arrepender-se e crer, mas o faz sem interferir na liberdade do homem. Todo pecador possui uma vontade livre (livre arbítrio), e seu destino eterno depende do modo como ele usa esse livre arbítrio. A liberdade do homem consiste em sua habilidade de escolher entre o bem e o mal, em assuntos espirituais. Sua vontade não está escravizada pela sua natureza pecaminosa.. O pecador tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da assistência do Espírito, mas não precisa ser regenerado pelo Espírito antes de poder crer, pois a fé é um ato deliberado do homem e precede o novo nascimento. A fé é o dom do pecador a Deus, é a contribuição do homem para a \salvação.[12]

          O ensino arminiano segue o  raciocínio de Pelágio, com diferença apenas no fato de que este, dizia que a queda não afetou em nada a humanidade, de tal forma que “o homem continua nascendo na mesma condição em que Adão estava antes da queda. Esta isento não só de culpa, como também de polução.”[13] Por isso, os arminianos são considerados semi-pelagianos, pois pensam que o homem depois da queda tenha capacidade para fazer escolhas certas.
         Os reformados calvinistas, em contra partida, afirmam que a queda  incapacitou totalmente o homem, afetando todas as suas faculdades. O homem após a queda perdeu tal liberdade, sendo agora escravo do pecado, morto espiritualmente.

Vejam mais detalhadamente o pensamento calvinista sobre a depravação total

Devido à queda, o homem é incapaz de, por si mesmo, crer de modo salvador no Evangelho. O pecador está morto, cego e surdo para as coisas de Deus. Seu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. Sua vontade não é livre, pois está escravizada à sua natureza má; por isso ele não irá - e não poderá jamais - escolher o bem e não o mal em assuntos espirituais. Por conseguinte, é preciso mais do que simples assistência do Espírito para se trazer um pecador a Cristo. É preciso a regeneração, pela qual o Espírito vivifica o pecador e lhe dá uma nova natureza. A fé não é algo que o homem dá (contribui) para a salvação, mas é ela própria parte do dom divino da salvação. É o dom de Deus para o pecador e não o dom do pecador para Deus.[14]

Os calvinistas neste sentido, seguem os ensinos de Agostinho, que por sua vez combateu os ensinamentos de Pelágio. Hoekeme escreve que Agostinho ensinou que quando os seres humanos:

“pecaram, embora não perdessem a sua capacidade de fazer escolhas, perderam  a sua capacidade de servir a Deus sem o pecado – em outras palavras, a sua verdadeira liberdade. O homem tornou-se, então, um escarvo do pecado; ele passou ao estado de ‘não ser capaz de não pecar’ (non posse non peccare).”[15]

A CFW afirma o seguinte acerca disso:

O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Ref. Rom. 5:6 e 8:7-8; João 15:5; Rom. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5; Col. 2:13; João 6:44, 65; I Cor. 2:14; Tito 3:3-5.[16]

Calvino também disse o seguinte acerca desta situação do homem:

As Escrituras atestam que o homem é escravo do pecado; o que significa que seu espírito é tão estranho à justiça de Deus que não concebe, deseja, nem empreende coisa alguma que não seja má, perversa, iníqua e impura; pois o coração, completamente cheio do veneno do pecado, não pode produzir senão os frutos do pecado.[17]

              O homem, após a queda não possui mais o livre-arbítrio, não pode mais escolher algo que é contrário a sua natureza pecaminosa. Ele está morto, cego, é escravo do pecado. Esta doutrina defendida pelos calvinistas, pelos reformados, que por sua vez é negada pelos arminianos, não se trata apenas de uma posição teológica diferente, e sim de afirmação bíblica. Nega-la é o mesmo que renunciar a Palavra de Deus neste assunto. São inúmeros os textos que afirmam tal verdade, falando que o homem está incapacitado totalmente de atender ao convite de salvação, de atender as exigências divinas. Isto acontece por seu próprio pecado, por sua própria inclinação e desejo. À parte da graça de Deus o homem, por sua própria iniciativa não pode salvar-se, ou escolher isto.

 Vejamos textos que servem de base para a doutrina calvinista:

1.     O homem está morto, incapaz de qualquer bem, precisando da intervenção divina: Jr 13.23; Ef. 2.1-10;  Rm 3.9-18, 23; Cl 2.13; Tt 3.3-5.
2.    O homem não consegue ir até Jesus, senão com a ajuda somente de Deus: Jo 6.44, 65; Rm 9.16.
3.    O homem precisa nascer de novo, contudo, isto só aconteça através da atuação do Espírito Santo, que age soberanamente: Jo 3.1-15.
4.    O homem não pode compreender as coisas espirituais, senão pelo Espírito: I Co 2.14-16.
5.    A Bíblia declara que o homem está cego, é escarvo do pecado. Não pode fazer outra coisa senão pecar, a não ser que Deus mude seu estado: Ef. 4.18; Jo 8.31-36; Jo 9.35-41; Rm 6.15-23; 2 Tm 2.26.
6.      O homem não pode apresentar um fruto diferente daquilo que ele é: Mt 7.16-18; Tg 1.16-18.

            Percebam que, afirmar que o homem tem o livre-arbítrio é o mesmo que ignorar tais textos da Bíblia. É importante enfatizar que, o homem mesmo neste estado, continua ser um agente livre, ou seja, ele exerce “a livre agência”. Isto quer dizer que continua a fazer as suas escolhas, contudo, não escolhe nada que seja contrário a sua natureza pecaminosa (Jo 5.40; Tg 1.14; Mt 17.12; At 7.51; Ef 2.3). O homem nunca é forçado a fazer algo que não deseja. Faz sempre aquilo que lhe traz prazer.

Sobre isto, diz Calvino:

Não pensemos, entretanto, que o homem peca como que impelido por uma necessidade incontrolável; pois peca com o consentimento de sua própria vontade continuamente e segundo sua inclinação. Mas, visto que, por causa da corrupção de seu coração, odeia profundamente a justiça de Deus; e, por outro lado, atrai para si toda sorte de maldade, por isso afirmamos que não tem o livre poder de eleger o bem ou o mal – que é o que chamamos livre-arbítrio.[18]

        Portanto podemos afirmar que, “Originalmente, antes da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência. Depois da queda o homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo quanto a capacidade de fazer o bem, isto é, o poder de agir contrariamente à sua natureza."[19]
           Assim, é o homem quem escolhe continuar no pecado, contudo, não tem capacidade, por causa do seu próprio pecado e maldade, para escolher coisa diferente a não ser que suas inclinações e vontade sejam transformadas por Deus, recebendo habilidade para escolher o que é bom e reto. Por isso o homem é sempre responsabilizado por seus atos, pois, sempre escolhe o que lhe agrada.

4. Na Redenção do Homem: O que acontece ao livre-arbítrio?

          Quando Deus em sua livre graça, resolvendo salvar o homem, age em seu coração, pela ação do Espírito lhe implanta vida, o que acontece é que o homem recebe habilidade para escolher o que é reto e bom. A Bíblia descreve este ato, como o da libertação de um escravo, dando-lhe liberdade para escolher o que é agradável a Deus, contudo, muito embora liberto, pode ainda inclinar-se para o pecado. O homem passa a desejar o que é bom[20]. Isto não significa que não deseje o pecado, pois, ainda permanece nele a imperfeição.

Sobre isto diz a CFW:
Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta da sua natural escravidão ao pecado e, somente pela sua graça, o habilita a querer e fazer com toda a liberdade o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau. Ref. Col.1: 13; João 8:34, 36; Fil. 2:13; Rom. 6:18, 22; Gal.5:17; Rom. 7:15, 21-23; I João 1:8, 10.[21]

          Estaria o homem regenerado na mesma condição de Adão antes da queda, ou seja, teria ele agora novamente o livre-arbítrio? Não, pois, não voltamos a ser como era Adão. Ele era perfeitamente reto, santo, e podia escolher algo que fosse contrário ao que era a sua natureza. O homem regenerado recebe liberdade para escolher o que é bom, contudo, não tem o livre arbítrio, pois não escolhe algo contrário ao que ele é. Ou seja, quando escolhe o que é bom, faz isso de acordo com a sua nova natureza criada em Cristo e quando escolhe pecar, faz isso, conforme a sua natureza carnal. Esta é a luta que reside dentro do homem restaurado. Ele não pode dar lugar ao velho homem (Ef  4.17-24; Cl 3.1-11).
É importante ressaltar que, sendo regenerado o homem recebe habilidade, que antes não tinha, para escolher a Deus. Conforme Agostinho, o homem recebe a capacidade de não pecar (posse non peccare).[22] Por isso, e somente assim, pode atender ao convite do Evangelho para a sua salvação. O homem na regeneração, continua a exercer a sua “livre agência”.
Vejam como a CFW, fala da condição que o homem para fazer escolhas espirituais, como um ser ativo:

Todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso dispostos pela sua graça. Ref. João 15:16; At. 13:48; Rom. 8:28-30 e 11:7; Ef. 1:5,10; I Tess. 5:9; 11 Tess. 2:13-14; IICor.3:3,6; Tiago 1:18; I Cor. 2:12; Rom. 5:2; II Tim. 1:9-10; At. 26:18; I Cor. 2:10, 12: Ef. 1:17-18; II Cor. 4:6; Ezeq. 36:26, e 11:19; Deut. 30:6; João 3:5; Gal. 6:15; Tito 3:5; I Ped. 1:23; João 6:44-45; Sal. 90;3; João 9:3; João6:37; Mat. 11:28; Apoc. 22:17. Esta vocação eficaz é só da livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem; na vocação o homem é inteiramente passivo, até que, vivificado e renovado pelo Espírito Santo, fica habilitado a corresponder a ela e a receber a graça nela oferecida e comunicada. Ref. II Tim. 1:9; Tito 3:4-5; Rom. 9:11; I Cor. 2:14; Rom. 8:7-9; Ef. 2:5; João 6:37; Ezeq. 36:27; João5:25. [23]

              É o homem que diz sim a Deus, que diz sim ao chamado do Evangelho, depois de Ter sido habilitado, libertado do pecado. O abrir dos olhos, a nova criação, o nascer de novo, é obra da livre graça de Deus e se não for assim, ninguém poderá crer em Cristo. Se não recebermos a fé que vem do Senhor, nunca poderemos crer. Maravilhosa graça!

5. Na glorificação do Homem: Terá o livre-arbítrio?

             Quando formos glorificados, por ocasião da vinda de Cristo e completação de nossa salvação, teremos de volta o livre-arbítrio? Não, na glorificação, não voltaremos a ser como Adão, estaremos à frente dele, pois, ele quando criado não gozava de uma perfeição permanente, ou seja, podia cair de tal estado. Ele podia escolher algo contrário a sua natureza, contudo, se tivesse sido obediente poderia Ter alcançado a perfeição permanente, ou um produto acabado.[24] Os crentes glorificados alcançarão o que Adão não pode alcançar. Teremos verdadeira liberdade para servir a Deus. 
           Continuaremos a ser agentes livres, pois, escolheremos o que estará de acordo com a nossa natureza perfeita. Nunca escolheremos pecar, pois, não haverá tal possibilidade, então, nunca mais teremos o livre-arbítrio, no sentido de fazer escolhas contrárias à nossa natureza.
          Desta forma, como disse Agostinho, alcançaremos o estado “não posso pecar” (non posse peccare).[25] Diz a CFW: É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só. Ref. Ef. 4:13; Judas, 24; I João 3:2.[26]

Comentando a CFW, Hodge diz:

Quanto ao estado dos homens glorificados no céu, nossa Confissão ensina que continuam, como antes, agentes livres; contudo, os restos de suas velhas tendências morais corruptas, sendo extirpadas para sempre, e as graciosas disposições implantadas na regeneração, sendo aperfeiçoadas, e o homem todo, sendo conduzido à medida da estatura do varão perfeito, à semelhança da humanidade glorifica de Cristo, permanecem  para sempre perfeitamente livres e imutavelmente dispostos à perfeita santidade. Adão era santo e instável. Os homens não regenerados são impuros e estáveis; isto é, são permanentes na impureza. Os homens regenerados possuem duas tendências morais opostas, digladiando-se pelo domínio em seus corações. São lançadas entre elas, contudo a tendência graciosamente implantada gradualmente por fim prevalece perfeitamente. Os homens glorificados são santos e estáveis. São todos livres e, portanto, responsáveis.[27]
Conclusão

            Os reformados, os calvinistas crêem no livre-arbítrio, como tendo sido uma habilidade concedida a Adão e perdida na queda. Desde então o homem ficou desprovido de qualquer habilidade para fazer escolhas santas, agradáveis a Deus. Não lhe resta outro desejo senão o de pecar, conforme as inclinações de seu próprio coração, sendo assim, um agente livre e responsável.
Cremos que, nunca mais tal habilidade fará parte da existência humana. O fato de Deus nos libertar do pecado nos habilitando a fazer escolhas acertadas, não é o mesmo que dizer que temos o livre-arbítrio. As escolhas sempre estarão de acordo com a nossa natureza, ou naturezas.
Nem antes, nem depois, voltaremos a ser como era Adão. Na glorificação estaremos à frente dele, num estado em que o pecado não será possível.
Dizermos que existe um tal de livre-arbítrio, seria o mesmo que dizer que Deus não é Soberano sobre a salvação do pecador, que Ele está sujeito ao querer do homem.
Se não fosse Deus, sua graça o que seria de nós, nunca escolheríamos a Ele.
Que o estudo acerca desse tema, possa-nos motivar a glorificar a Deus por causa da sua graça que, agindo em nós mudou nos inclinações e vontade, fazendo-nos querer, desejar, o que não queríamos nem desejávamos.
 
Sola Scriptura
Sola Gratia!
Sola Fide
Solus Christus
Soli Deo Gloria!


[1] O termo liberdade é usado por Anthony Hoekema, ao invés de livre-arbítrio.
[2] Juan Calvino, Breve Instruccion Cristiana, Felire, Barcelona, pg. 13.
[3] Héber Carlos de Campos, Antropologia Bíblica, Apostila, São Paulo, pg.9.
[3] CFW, IX, II.

[5] Anthony Hoekema , Criados a Imagem de Deus,  CEP, São Paulo, 1999, pg. 252.
[6] A. A. Hodge, Confissão de Fé de Westminster Comentada, Os Puritanos, 1999, pg. 220.
[7] Hoekema, pg. 253.
[8] Campos, pg. 10.
[9] Idem.
[10] Hoekema, pg. 255.
[11] O nome “arminiano”, se aplica aos seguidores de Jacob Arminius (um professor de seminário holandês),  que, em 1610 apresentaram um protesto ao “Estado da Holanda”, “um ano após a morte de seu líder. O protesto consistia de  ‘cinco artigos de fé’, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a ‘Remonstrance’, ou seja, ‘O Protesto’. O partido arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto. As doutrinas às quais os arminianos fizeram objeção eram as relacionadas com a soberania divina, a inabilidade humana, a eleição incondicional ou predestinação, a redenção particular (ou expiação limitada), a graça irresistível (chamada eficaz) e a perseverança dos santos. Essas são doutrinas ensinadas nesses símbolos da Igreja Holandesa, e os arminianos queriam que elas fossem revistas.” Estas informações forma citadas da tradução livre e adaptada do livro The Five Points of Calvinism - Defined, Defended, Documented, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian & Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos.
[12] Idem.
[13] Louis Berkhof, A História das Doutrinas Cristãs, PES, São Paulo, pg. 120.
[14] A formulação de tais idéias, foram apresentadas pelos calvinistas combatendo as idéias arminianas, apresentas no protesto ao Estado da Holanda. Tais idéias fazem parte do conhecido, “Os Cinco Pontos do Calvinismo”.
[15] Hoekema, pg. 255.
[16] CFW, IX, III.
[17] Citação extraída de Paulo Anglada, As Doutrinas da Graça, Puritanos, 2000, pg.  17.
[18] Idem.
[19] GRIFO NOSSO
[20] O termo bom é no sentido de ser agora filho de Deus e com a divina semente, ter a capacidade de agradar a Deus.
[21] CFW, IX, IV.
[22] Citação extraída de Hoekema, pg. 258.
[23] CFW, capítulo X; I, II, Da Vocação Eficaz.
[24] GRIFO NOSSO
[25] Hoekema, pg. 267.
[26] CFW, IX; V.
[27] Hodge, pg. 227.